Em seu já clássico monólogo sobre a Copa do Mundo, o apresentador John Oliver, do programa “Last Week Tonight”, da HBO, menciona o “Princípio da Lingüiça”, segundo o qual, se você adora algo, não deve procurar saber como é feito. Para exemplificar, Oliver cita a Copa, o maior acontecimento do mundo para quem gosta de futebol, mas organizado por uma entidade – a FIFA – “simplesmente assustadora”.
Oliver tem razão. O futebol não tem culpa de ser chefiado por Sepp Blatter. E, dentro do campo, esta Copa tem sido muito boa.
Com raras exceções (confesso que ignorei Irã vs. Nigéria), os times têm jogado um futebol ofensivo. Apenas nas primeiras oito partidas o número de gols já superou toda a primeira fase da Copa da África do Sul. Nos 11 primeiros jogos, a média de gols por jogo da Copa foi de 3,5, a mais alta nos últimos 56 anos de competição.
Os jogos têm sido surpreendentemente bons. Nunca imaginei que ficaria feliz em perder um domingo de sol vendo Suíça vs. Equador, mas foi um jogão, decidido no último lance da partida. Estados Unidos vs. Gana também foi divertido (aliás, o que bateu o time de Gana, hein?).
Alguns comentaristas têm dito que a razão da melhoria da qualidade dos jogos é a globalização do futebol, com muitos jogadores atuando nos grandes mercados da Europa, mas acho que essa explicação não faz muito sentido. O futebol já era globalizado em 2010 e a Copa da África do Sul foi chatíssima, marcado por times retranqueiros e jogos de poucos gols.
Na minha opinião, os dois melhores jogos até agora foram Holanda vs. Espanha e Itália vs. Inglaterra.
O primeiro – 5 a 1 para a Holanda - foi um show de Robben, Blind e Van Persie, mas acho que o resultado não reflete o que foi a primeira hora do jogo. Até o início do segundo tempo, foi equilibrado. A Espanha abriu o placar e poderia ter feito 2 a 0, se David Silva não tentasse encobrir o goleiro quando Diego Costa estava sozinho a seu lado, pedindo a bola.
Van Persie empatou o jogo numa verdadeira obra de arte, um dos gols mais bonitos das últimas Copas, com um lançamento à Gerson de Blind e uma cabeçada que parece simples, de tão bem executada. Robben fez 2 a 1 em outro passe maravilhoso de Blind. Logo depois, a Holanda marcou um gol irregular: Van Persie fez falta em Casillas. Com 3 a 1, a Fúria desmoronou e virou uma presa fácil e atordoada para a velocidade de Robben. Poderia ter sido de sete ou oito.
O jogo entre italianos e ingleses foi muito mais equilibrado, mas Pirlo fez a diferença. O corta-luz que deu no gol de Marchisio foi lindo, mas a jogada mais impressionante foi uma falta que ele bateu de três dedos, no fim do jogo. O efeito da bola foi tamanho que o goleiro Hart saiu para um lado e a bola foi para o outro, batendo no travessão (em sua autobiografia, Pirlo diz que aprendeu a bater faltas observando Juninho Pernambucano, craque do Vasco e do Lyon).
Ontem, a Alemanha passou o trator em cima da fraquíssima seleção de Portugal. Parecia treino. A julgar pela primeira rodada, os melhores times até aqui foram Holanda, Itália e Alemanha, com Argentina e a seleção da CBF logo atrás. Eu não descartaria a Espanha e estou curioso para ver a Bélgica, que joga hoje.
A Copa teve vários lances bonitos. O gol do japonês Honda na derrota para a Costa do Marfim foi um deles, com um corte seco de direita e uma pancada de canhota, tão forte que o goleiro nem se mexeu. Balotelli, da Itália, quase marcou um golaço, encobrindo o goleiro inglês. E Messi, mesmo não tendo jogado tão bem contra a Bósnia, fez um lindo gol, bem a seu estilo, partindo da direita, em diagonal, cortando os zagueiros e tirando a bola do alcance do goleiro com um chute colocado. Quantas vezes você não viu o argentino fazendo um gol parecido?
Outros bonitos gols foram o de Ureña, da Costa Rica, contra o Uruguai, e a cabeçada de Wilfried Bony, da Costa do Marfim, contra o Japão.
Além de pesos-pesados como Pirlo, Robben e Van Persie, alguns jogadores bem menos badalados se destacaram na primeira rodada da Copa. Já falei de Blind, o lateral holandês que destruiu a Espanha. Mas não dá para esquecer Campbell, cérebro da sapatada que a Costa Rica deu no cansado Uruguai, e de Sterling, o veloz e habilidoso atacante inglês que causou transtornos à defesa italiana.
A segunda rodada da Copa terá alguns jogos que prometem ser fantásticos. Espanha vs. Chile será decisivo, assim como Uruguai vs. Inglaterra.
Para encerrar, uma das imagens mais bonitas da Copa até agora: depois do jogo contra a Costa do Marfim, torcedores japoneses recolhem o lixo deixado nas cadeiras da Arena Pernambuco. Detalhe: depois de uma dolorosa derrota de virada.
P.S.: Hoje às 16h, participo de um liveblog do R7 sobre o jogo do México contra a seleção da CBF. Estão todos convidados.
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