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JABÁ, PIRATARIA E TRAMBIQUE: O LADO SOMBRIO DA MÚSICA

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Simon JABÁ, PIRATARIA E TRAMBIQUE: O LADO SOMBRIO DA MÚSICA

Você sabe quando começou o jabá na música?

Foi na década de trinta. Mil oitocentos e trinta e quatro, para ser exato, quando o inglês Thomas Chappell pagou à cantora lírica Clara Butt uma grana para que ela adicionasse algumas canções ao seu repertório. E quem vendia a partitura das canções? A Chappel Music, claro.

E o primeiro caso de pirataria musical?

Aconteceu em 1905, quando um meliante foi preso nas ruas de Londres vendendo cópias falsificadas de partituras de famosas músicas da época, por um quinto do preço das partituras legítimas.

Há também o caso do empresário de uma banda desconhecida que procurou dois escritórios especializados em publishing (edição musical) para representar seus artistas. Ele foi ao primeiro escritório, da Essex Music, esperou quinze minutos para ser atendido, perdeu a paciência e decidiu ir ao segundo, onde foi recebido por um sujeito chamado Dick James. James ouviu a única música que o grupo havia gravado até então e concordou em representá-lo.

O empresário era Brian Epstein, a banda, os Beatles, e Dick James virou bilionário. Por décadas, ganhou 32,5% dos direitos de publishing de todas as canções de Lennon e McCartney. Ganhava mais que os compositores, que só ficavam com 29,25%. E a Essex Music ficou conhecida como a casa que rejeitou os Beatles.

Essas histórias – e dezenas de outras – sobre o lado sombrio da indústria musical estão em um livro obrigatório para quem se interessa pelas maquinações da indústria: “Ta-ra-ra-boom-de-ay: The Dodgy Business of Popular Music”, do inglês Simon Napier-Bell.

Napier-Bell tem 75 anos e é uma lenda dos bastidores do showbizz. Nos anos 60, escreveu letras para Dusty Springfield e empresariou os Yardbirds; nos 70, descobriu Marc Bolan e depois inventou o duo pop Wham!, com o então desconhecido George Michael (na foto do alto, ele bate papo com Michael e Andrew Ridgeley, em 1985). Napier-Bell é um estudioso da história da música e conhece todo mundo. No livro, junta a erudição de décadas de pesquisa com o veneno de quem testemunhou, como insider, várias das histórias que relata.

Ele conta, por exemplo, como Paul McCartney ficou furibundo ao descobrir que suas músicas já não lhe pertenciam, e como o Beatle resolveu se vingar do mundo fazendo exatamente o mesmo com outros artistas, comprando todo o catálogo de Buddy Holly e vendendo suas músicas para comerciais de TV.

Mas Macca não demoraria a experimentar do próprio veneno: certa noite, jantando com Michael Jackson, comentou como estava ganhando uma fortuna com músicas de outros artistas. Jacko brincou: “Sabe, Paul, um dia eu vou comprar as músicas dos Beatles”. McCartney riu e não deu muita bola.

Mas Jacko não esqueceu a história. E depois de embolsar 100 milhões de dólares com as vendas de “Thriller”, usou metade da grana para comprar as músicas dos Beatles. Enquanto McCartney espumava, Jacko vendia “Revolution” para um anúncio da Nike e “All You Need is Love” para a Panasonic.

O livro começa no início do século 19, com o primeiro caso de jabá registrado, e acompanha todo o desenvolvimento da indústria musical. Ficamos sabendo como Duke Ellington, Benny Goodman e todos os líderes de big bands recebiam grana de empresas de publishing para tocar determinadas canções e incentivar a venda de partituras, o negócio mais rentável da música na época.

Napier-Bell fala da “Taxa Elvis” – um percentual de 30% que todo compositor precisava pagar a Elvis se quisesse que ele gravasse sua música; conta como se formaram as maiores gravadoras do planeta – Columbia, RCA Victor, Atlantic – e faz perfis dos executivos que as comandaram. E explica, de forma clara, como um artista que vendeu 200 mil cópias de um disco conseguia dever dinheiro à gravadora.

Mas o melhor do livro são as pequenas histórias de grandes trambiques e espertezas: como a do sul-africano Clive Calder, que vendeu parte de sua gravadora, a Zomba, para a BMG, com uma cláusula em que a BMG se comprometia a comprar o restante da Zomba por três vezes o lucro médio dos últimos três anos. Calder moveu o mundo e conseguiu contratar, de uma vez, Backstreet Boys, N’Sync e Britney Spears, que venderam, juntos, 50 milhões de discos só nos Estados Unidos. O lucro anual da Zomba chegou a 900 milhões de dólares, e Calder liquidou a empresa por inacreditáveis 2,7 bilhões, tornando-se, de um dia para o outro, um dos 200 homens mais ricos do planeta.

O capítulo sobre a invenção das boy bands é demais. Em especial o perfil de Johnny Kitagawa, um empresário americano que mudou para o Japão nos anos 50 e por quatro décadas montou dezenas de grupos infantis como KinKi Kids, SMAP, Tokio, V6 e Four Leaves, todos soando idênticos e com menininhos adoráveis, que ele traçava sem dó, aproveitando que a idade consensual para sexo no Japão era de 13 anos.

Napier-Bell conta também a história de Lou Pearlman, agente que inventou o Backstreet Boys e o N’Sync (e depois foi processado pelas duas bandas por assédio). Quando um repórter perguntou a Pearlman se esses grupos tinham prazo de validade, ele respondeu: “Boy bands só deixarão de ser populares no dia em que Deus parar de fabricar garotinhas”. Napier-Bell completa: “ou no dia em que Deus parar de fabricar agentes homossexuais”.

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