Pagar 40 reais num CD triplo é barato. Se o disco for do Creedence Clearwater Revival, então, é uma pechincha imperdível.
“Ultimate Creedence Clearwater Revival” traz dois CDs com um total de 40 faixas clássicas e um terceiro disco com 12 canções gravadas ao vivo entre 1969 e 1971.
Creedence Clearwater Revival - Fortunate Son por thevideos no Videolog.tv.
O CCR sofre do mesmo mal de Raul Seixas: fez músicas tão boas e populares que muitas perderam a força, estragadas em versões medonhas de bandas de bar e saraus de colégio. Quantas vezes você não viu uma bandinha mequetrefe arriscando “Have You Ever Seen the Rain?”
Na virada dos anos 60 pros 70, o Creedence não foi só uma das melhores bandas do mundo, mas uma das mais produtivas. Entre 1968 e 1970, lançou seis discos clássicos: “Creedence Clearwater Revival”, “Bayou Country”, “Green River”, “Willy and the Poor Boys”, “Cosmo’s Factory” e “Pendulum”.
Quem ouvia o som do grupo, inspirado no rockabilly da Sun Records e no rock do sul dos Estados Unidos, dificilmente imaginava que eles eram de El Cerrito, ao lado de São Francisco. Enquanto muitas bandas locais – Grateful Dead, Jefferson Airplane, Moby Grape – faziam um som psicodélico e viajandão, com longas jams e solos, o CCR optava pela simplicidade, com músicas rápidas e simples (ouça o disco ao vivo, em que a banda toca ainda mais rápido que as versões em disco, e diga se aquilo não prenuncia o que os Ramones fariam alguns anos depois).
O lider do CCR, John Fogerty, é um dos personagens mais interessantes do rock americano. Tão talentoso quanto egocêntrico, mandava na banda como um general, o que causou muitas brigas com os outros três integrantes: o irmão, o guitarrista Tom Fogerty, o baixista Stu Cook e o baterista Doug Clifford.
John era um perfeccionista. Recusou-se a permitir que o show da banda no festival de Woodstock fosse incluído no filme e na trilha sonora, por julgar a performance fraca. “Quando subimos no palco, passava das 3 da manhã e o Grateful Dead tinha posto meio milhão de pessoas pra dormir. Nosso show foi uma merda.” (lançado em 1994, a gravação do show é sensacional).
CREEDENCE CLEARWATER REVIVAL - Tombstone Shadow por thevideos no Videolog.tv.
Em 1970, Tom decidiu que não agüentava mais o ego de John e saiu da banda. O CCR seguiu como um trio, até que John, cansado de compor quase todas as músicas, disse que as composições seriam divididas no próximo disco, “Mardi Gras”: “Vamos ver se conseguimos fazer um disco em que eu não faça tudo.” O resultado foi um fracasso de venda e público. John partiu para a carreira solo.
Nos anos 80, Saul Zaentz, dono da Fantasy, gravadora do CCR, processou John por lançar músicas parecidas com as do CCR, num caso único de artista processado por plagiar a si mesmo. John ganhou o processo e contra-atacou com várias letras venenosas contra Zaentz (em 1996, entrevistei Zaentz – ele produziu o filme “O Paciente Inglês” – e, no fim, perguntei sobre a briga com Fogerty. A entrevista terminou ali mesmo).
A briga entre John e Tom continuou. Os irmãos não se falaram por quase 20 anos. Tom morreu em 1990, de Aids, depois de receber uma transfusão de sangue contaminado. Dizem que John foi visitá-lo no hospital e a última frase que ouviu de Tom foi: “Saul Zaentz estava certo!”
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