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OS PEQUENOS CRÍTICOS NÃO PERDOAM

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Dia desses, fui convidado a participar do júri de um concurso de resenhas de livros escritas por crianças. Os candidatos – de 6 a 12 anos - tinham de escolher um livro e escrever um texto sobre ele. Foi uma experiência sensacional ler as resenhas da molecada.

O que me impressionou, para começo de conversa, foi o alto nível dos textos. Como não se emocionar com uma resenha que começa assim: “Admito: sou uma viciada em livros. Muitas pessoas falam que quem lê são sós os nerds ou sem vida social. Um aviso: estão enganados! Muitos não sabem, mas quem lê escolheu ter várias vidas ao invés de uma”.

Várias resenhas traziam frases curiosas e surpreendentes. Uma menina descrevia um livro como “um ótimo acompanhamento para uma tarde de frio e um chocolate quente”; outra elogiava um título por não terminar com o tradicional “Felizes para sempre”: “Ele nos faz refletir sobre a questão do desconhecido (...) você se surpreenderá com a visão sobre o mundo completamente diferente”.

Alguns “críticos” se arriscavam a dar dicas aos escritores. Um menino de 10 anos deu nota 9,5 ao famoso livro “Diário de um Banana”, do americano Jeff Kinney, e terminava a resenha com uma sugestão: “O livro perde meio ponto porque só conta a vida de Greg na escola. Poderia contar da amizade dele ou algo assim. Se eu fosse Jeff Kinney, contaria como ele convivia com os amigos e não só tentando ser popular”.  Demais.

Nem todos os textos eram elogiosos. Uma menina de 12 anos, fã da série “Percy Jackson”, de Rick Riordan, malhou outro livro do autor, “A Pirâmide Vermelha”. O texto começa elogiando Riordan: “Duas coisas que aprecio muito em Rick: ele consegue encaixar a mitologia para o mundo atual e é o tipo de autor que faz você querer entrar no livro, você participa da história”. Mas, no fim, a menina chega à conclusão de que o livro é decepcionante: “Ele tem pontos negativos: são ideias que juntas não combinariam, o livro se torna cansativo e previsível (...) Tinha tudo para ser bom, um bom escritor, a ideia de mitologia e a proposta da narrativa, só não juntos. Por isso: não recomendo”.

Um dos textos mais ácidos e engraçados é o de uma garota de 11 anos, que malha sem dó o livro “Tem um Fantasma na Minha Calça”, de Jim Benton: “Só quis jogar o livro no chão e botar fogo! Calma, pessoal, foi apenas uma vontade. Nada de botar fogo no livro, hein? Mas já aviso que você poderá sentir essa vontade quando começar a ler o livro”.

Algumas coisas me chamaram a atenção nas resenhas. Em primeiro lugar, a maioria absoluta de meninas. Li cerca de 80 resenhas e 90% tinham sido mandadas por meninas. O que está rolando com os garotos? Não leem tanto? Muito videogame?

Outro fato curioso: vários textos comentam, mesmo que de passagem, como a leitura é uma opção à televisão.  Num texto sobre “O Caso do Bolinho”, de Tatiana Belinky, uma menina de 10 anos escreve: “O livro é um bom estímulo à leitura e uma sugestão para sair da frente da televisão”.  Espero, daqui a alguns anos, acompanhar essa menina escrevendo em algum jornal.

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