Quantcast
Viewing all articles
Browse latest Browse all 575

ROCK IN RIO: 30 ANOS ESTA NOITE

Image may be NSFW.
Clik here to view.
 ROCK IN RIO: 30 ANOS ESTA NOITE

Quem diz ter saudades dos anos 80 é porque não estava lá.

A década de 80, para quem gostava de rock e música mais alternativa, foi uma pasmaceira só: discos não chegavam, revistas de música importadas custavam uma fortuna e as rádios, com exceção da Fluminense FM, só tocavam Gal Costa e Djavan.

Shows eram raríssimos, especialmente estrangeiros. Vi Queen, Kiss, Peter Frampton, Police e Van Halen, vários no Maracanãzinho, com sua acústica de banheiro de rodoviária.

Quando começaram os boatos sobre um festival que traria AC/DC, Ozzy Osbourne, Yes, Queen, Iron Maiden, Scorpions, Rod Stewart e B-52’s, muita gente – inclusive eu – achou que era pegadinha. Era bom demais para ser verdade.

Na minha turma do colégio – e peço aos companheiros de São Bento que me corrijam se a memória falhar – havia um colega chamado Ya-ery. O pai de Ya-ery trabalhava no tal festival e todo dia ele chegava à sala com novidades: “Fecharam o Yes!”; “Tão sondando o Def Leppard”, essas coisas. Todo mundo achava que era cascata.

No fim de 1984, quando anunciaram o line-up do primeiro Rock in Rio, vimos que não era cascata: vários dos nomes antecipados por nosso colega de turma estavam na escalação. Logo depois, ele organizou uma excursão da escola para vermos as instalações e o palco. Parecia um sonho.

Até então, minha ambição roqueira era ver o Água Brava no Circo Voador. Por isso, quando abriram as vendas, saí correndo e comprei um pacote para os dez dias.

Alguns line-ups foram insanos: quem seria capaz de escalar Ozzy Osbourne para tocar entre Rita Lee e Rod Stewart? Mas foi o que aconteceu no dia 16 de janeiro de 1985. E ninguém reclamou. O público estava tão feliz por testemunhar aquilo, que achou super normal o comedor de morcego tocar depois da doce vampira.

E quem reclama da infra de shows no Brasil hoje não tem ideia da esculhambação que foi o primeiro Rock in Rio. Eu morava na Ilha do Governador e, no primeiro dia, levei quase cinco horas para chegar à Cidade do Rock (ainda não existia a Linha Amarela, que hoje diminuiu demais o trajeto). Depois do show do Queen, demorei tanto para chegar em casa, que já estava na hora de retornar para o show seguinte.

Os banheiros alagaram em cinco minutos, e toda a área de sanitários virou uma imensa piscina nauseabunda. Comprar um Big Bob levava duas horas. O lugar estava tão cheio que, se você deixasse seu lugar na frente do palco para ir ao banheiro, não conseguia voltar de jeito nenhum. O jeito era aliviar-se ali mesmo.

A maioria dos artistas do Rock in Rio ficou hospedado em Copacabana. Costumávamos passar pelo bairro, no caminho do show, para tentar ver algum dos astros de perto. Um amigo conseguiu penetrar no hotel do Iron Maiden e saiu chorando, com um autógrafo de Dave Murray riscado num guardanapo do Bob’s. Naquela época pré-Internet, a única referência visual dos artistas era a capa de seus discos, e qualquer gringo cabeludo era cercado na rua e acossado pelos fãs: “Olha o John Sykes!”; “Aquele não é o cantor do Yes?”.

Dizer que o Rock in Rio foi marcante é pouco. O evento revolucionou o mercado da música no Brasil e abriu o país ao pop internacional. Para nós, adolescentes na época, vivenciar aqueles dez dias foi um delírio até hoje inigualado. Nada do que foi seria de novo do jeito que já fora um dia.

E o melhor momento do festival, sem duvida, foi ver Ozzy Osbourne rasgando uma camisa do Flamengo. Vida longa ao rei do metal.

ADEUS, ANITA!

Anita Ekberg se foi, aos 83. Uma imagem para homenagear a musa, que Fellini eternizou em "A Doce Vida".

Image may be NSFW.
Clik here to view.
anita ekberg 01 ROCK IN RIO: 30 ANOS ESTA NOITE

P.S.: Publiquei esse texto especialmente no domingo, para entrar no especial "Rock in Rio 30 Anos", do R7. Publico um texto inédito na terça. Até lá.

The post ROCK IN RIO: 30 ANOS ESTA NOITE appeared first on Andre Barcinski.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 575