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MUTANTES COMO VOCÊ NUNCA VIU

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mutantes1 1024x682 MUTANTES COMO VOCÊ NUNCA VIU

Foi minha amiga Denise Bobadilha quem deu a dica: a fotógrafa Leila Lisboa Sznelwar, 64, está organizando um “crowdfunding” para financiar um projeto sensacional: um livro reunindo 130 fotos de seu acervo de imagens dos Mutantes (sabia mais aqui), muitas delas inéditas.

Leila era namorada do baixista Liminha e conviveu intensamente com os Mutantes entre 1969 e 1974, registrando o dia a dia da banda em centenas de fotos intimistas e reveladoras. As imagens são lindas.

Fiz uma entrevista com Leila para o blog. Aqui vai a íntegra do papo:

 

- Quando e como você conheceu os Mutantes? Quantos anos você tinha, e o que fazia?

- Conheci em um show que fui com a Lucinha Turnbull [no Teatro São Pedro, em São Paulo] e comecei a namorar o Liminha, baixista deles. Moramos juntos por alguns anos e assim se deu minha convivência com todos. Tínhamos 18, quase 19, os dois. Eu trabalhava como assistente de fotógrafa e estudava na USP.

 

- Quem mais, além da banda e você, frequentava os ensaios?

- O Toninho Peticov, Claudio Prado, Paulo Sri, Polé, Marcia Lancelotti, Gilberta, Lucia Turnbull, as namoradas Sabine do Serginho, Lilian Turnbull do Dinho, A Virgínia. irmã da Rita aparecia às vezes e eu sempre por ali tirando fotos... Era um grupo bem fechado nessa época. Eles preferiam ensaiar sem muita gente por perto, por isso alugaram outra casa que não a deles na serra da Cantareira. Até hoje, eu moro na Cantareira.

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- Pelo que vi, muitas fotos foram tiradas na Cantareira. Como era a atmosfera da casa?

- Vou te dizer uma coisa: na época em que eu acompanhei os Mutantes, o clima era muito alto astral. Era muito engraçado, não havia dia ruim. Nos ensaios rolavam as discussões normais de qualquer grupo.

 

- Poderia descrever um dia típico na vida dos Mutantes?

- Nada era típico, cada dia era diferente do outro. Essa normalidade não existia. O que havia eram surpresas, fantasias, sustos, pegadinhas,  cobras aranhas e lagartos.

 

- Como era a relação da banda com a situação política e social do país? Eles eram preocupados com a situação da época, ou tinham se isolado justamente para tentar fugir um pouco da realidade tão dura?

- Obviamente, eles não eram a favor da ditadura, mas sabiam dar a volta por caminhos que ninguém entendia, tudo com muito humor e sarcasmo. Nossa realidade era mais leve, mas não menos triste, politicamente falando.

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- O período compreendido no livro é marcado por cisões no grupo, primeiro com a saída de Arnaldo e, posteriormente, com o início da carreira solo da Rita. Como você sentiu essas mudanças na dinâmica e no relacionamento da banda?

- Tudo isso coincidiu com a minha separação do Liminha, o que tornou tudo mais pesado também para nós. Como eu me lembro dessa época: turbulenta, ansiosa, com cabeças já pensando no futuro. Tanto eles quanto a Rita queriam seguir seus caminhos, mas nada suavizou a separação no momento. Depois disso, continuei amiga de todos separadamente, tanto que fiz a capa do “Lóki” [primeiro disco solo de Arnaldo] em 74. Segui meu próprio caminho, também numa estrada paralela. Tenho fotos do primeiro show deles separados, quando a Rita se juntou com a Lucinha formando as Cilibrinas do Éden e eles tocando em seguida no mesmo show, o Phono 73. Chorei muito nesse show, o que foi uma bobagem porque foi lindo.

 

- Você poderia descrever seu relacionamento com os diferentes integrantes da banda? Você se dava bem com Sérgio, Arnaldo e Rita? Como eram as personalidades deles?

- Eu sempre fui a namorada, mas me dava muito bem com todos, Havia muito carinho entre nós, de forma que não havia diferenças no relacionamento. A Rita era muito engraçada, o Serginho todo paz, amor e guitarra, o Arnaldo a 300 por hora com tudo, o Dinho e o Liminha eram mais inocentes... Eu era uma menina deslumbrada pela magia da época, porém uma pessoa quase normal, que trabalhava e se divertia sempre com muitas lantejoulas bordadas.

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- Como você avaliaria o balanço de poder criativo da banda? Havia alguém que “comandava” os ensaios, que trazia mais ideias para músicas novas? Ou era um trabalho mais coletivo?

- No geral era um trabalho coletivo, mas o Arnaldo era genial, ninguém pode negar. Todos criavam o tempo todo, era impressionante.

 

- Como foi, para você, o fim da banda e as saídas de Arnaldo e Rita?

- Como disse, foi um fim coletivo, tudo mudou, todos se separaram, mas é impossível esquecer os poucos anos que estivemos juntos. Não acredito que eu tenha vivido um tempo mais rico que esse em termos de formação de personalidade, de caráter. Ali, aprendi que o amor incondicional é o que realmente importa na vida, que ser do bem é muito bacana. Eu trouxe comigo esses conceitos até hoje e passei para minha filha, que captou totalmente. Dos outros, não posso falar...cada um que diga por si.

 

- Por que esse material ficou tanto tempo inédito?

Por falta de interesse geral. Não tive apoio nenhum de ninguém, de nenhum projeto cultural, as editoras nem olhavam minhas fotos ou queriam todos os direitos. Eu posso ser boa, mas não sou boba. As gravadoras nunca me pagaram e nem me devolveram os negativos. Imagine que dois ou três rolos das fotos do “Lóki” estão perdidos. Até hoje tento recuperar. Tenho uma carreira em outro setor porque ganhar dinheiro com fotos não foi possível. Aí apareceu o “crowdfunding” que é minha última esperança para lançar esse livro.

 

- Quantas fotos inéditas você tem dos Mutantes?

- Há muitas fotos que já foram publicadas e estarão no livro porque são belíssimas, mas a quantidade que eu tenho é ridiculamente maior, umas 300 que nunca saíram dos meus arquivos.

P.S.: Estarei fora até o início da tarde e não poderei moderar os comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado,l peço desculpas e um pouco de paciência.

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