Um amigo fechou a loja de artigos de jardim que mantinha há uma década e acabou com o emprego de quatro funcionários.
Outro amigo está desempregado há mais de um ano e, por ter mais de 50 anos, está tendo ainda mais dificuldade para conseguir emprego.
A dona de uma pequena confeitaria vendeu o ponto, mandou embora três funcionários e passou a vender bolos e doces por encomenda.
O pai de um conhecido, funcionário de longa data de um conhecido instituto federal de pesquisa, antes um modelo de excelência, está exasperado com a queda na qualidade do trabalho devido ao aparelhamento político da direção do instituto e pensa em pedir demissão.
O mestre de obras está sem trabalho pela primeira vez em mais de dez anos.
O vendedor de água de coco na praia diz que não teve um verão tão ruim desde que começou na profissão, há mais de uma década.
Um amigo, dono de três restaurantes, diz que pensa em vender tudo e abandonar o ramo.
Podem me chamar de catastrofista ou pessimista, não me importo. O fato é que não ouço uma notícia boa sobre o país há muito, mas muito tempo. Aliás, se você não é banqueiro ou especulador, não tem do que se alegrar hoje em dia.
E não se trata de questão partidária. Já passamos disso. Quem ainda reduz o problema a brigas de petistas e tucanos está perdendo tempo. Temos um governo inepto e uma oposição igualmente ruim, e nenhum sinal de melhora pela frente.
E ainda tem gente que culpa a Lava-Jato pela paralisia nacional, como se a investigação, e não a corrupção, fosse culpada de algo. A Lava-Jato não é causa, mas consequência. Se há alguma esperança de melhora, ela começa justamente pela Lava-Jato.
Não vejo as pessoas tão desesperançadas com o país e tão pessimistas com a economia desde a época de hiperinflação de Collor e Sarney.
É um tal de fechar, reduzir e despedir. Ninguém pensa em abrir um novo negócio ou investir em nada. Também, ninguém é bobo ou masoquista. Quem vai botar dinheiro num país em que empresários e comerciantes são tratados como inimigos do Estado? Quem é louco de arriscar sua grana com os juros mais extorsivos do planeta?
E as últimas notícias são desanimadoras.
O que dizer de um ajuste fiscal que pretende “poupar” 66 bilhões reduzindo direitos trabalhistas, enquanto temos 900 mil funcionários – 114 mil deles comissionados – em 39 ministérios, que nos custam 214 bilhões por ano só de salários?
O governo prometeu, até o fim da semana, o anúncio de cortes de mais de 70 bilhões. Será “na carne”, disse Levy.
Na carne de quem? Na nossa, certamente. Os cortes nunca virão nos 114 mil funcionários empregados sem concurso, na farra dos carros oficiais, nos jatinhos ou no Fundo Partidário, que os políticos acabam de triplicar para quase um bilhão de reais por ano.
Não acredito em nenhum “ajuste” que não comece pelos custos da máquina governamental, mas acreditar que o governo vai abdicar disso é história da Carochinha. E tome mais impostos e cortes em programas sociais e investimentos, mais verbas emergenciais para obras atrasadas das Olimpíadas e mais grana pública para partidos comprarem aviões, como mostrou uma reportagem de “O Globo”.
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