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Conheça os verdadeiros “Warriors – os selvagens da noite”

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Em 1979, Walter Hill dirigiu “Warriors – Os Selvagens da Noite”, um filme violento e sombrio sobre a guerra de gangues em Nova York. O filme mostrava uma cidade dividida em pequenos grupos de delinquentes que protegiam seus quarteirões e lutavam contra gangues rivais. Cada grupo tinha visual e estilo próprios: um usava maquiagem de palhaço, outro andava de patins, um terceiro se fantasiava de jogadores de beisebol. Era tudo tão caricato e exagerado que parecia ficção.

Mas um documentário, recém-lançado e disponível no Netflix brasileiro, mostra que a inspiração para o filme era real. “Rubble Kings”, de Shan Nicholson, conta a história do Bronx na virada das décadas de 1960 e 1970 e o surgimento da cultura de gangues em Nova York. É um filme revelador e com imagens de arquivo impressionantes.

Para entender as circunstâncias que geraram o surgimento de centenas de gangues, é preciso lembrar que, no fim dos anos 1960, Nova York estava falida. Soldados voltavam do Vietnã só para encontrar seus bairros abandonados e tomados por traficantes de cocaína e heroína. Os conflitos raciais e os assassinatos de Malcolm X (1965), Martin Luther King (1968) e Bobby Kennedy (1968) transformaram os bairros negros e hispânicos da cidade num caldeirão de ódio e ressentimento.

O filme conta que, num período de dez anos, mais de 30 mil imóveis foram incendiados pelos próprios donos para receberem o dinheiro do seguro. Nova York era um inferno em chamas.

Desse cenário de escombros (“Rubble”), grupos de jovens começaram a se organizar para proteger seus quarteirões. Dividiram-se por nacionalidade (porto-riquenhos, cubanos, mexicanos, italianos, irlandeses) e cor de pele. Havia gangues de negros, de brancos e de orientais. Algumas usavam armas de fogo, outras lutavam caratê. Muitas emulavam o visual de grupos de motociclistas como os Hell’s Angels, o que explica as imagens chocantes de jovens negros usando jaquetas com suásticas.

A violência era constante: linchamentos, assaltos e brigas aconteciam todos os dias e em todos os lugares. A polícia tinha medo de ir a certos bairros e não investigava boa parte dos assassinatos.

A situação chegou a um nível tão brutal que uma gangue de porto-riquenhos chamada Ghetto Brothers, liderada por dois adolescentes carismáticos, Benjy Melendez e Carlos “Karate Charlie” Suarez, sugeriu um tratado de paz entre as gangues. Em dezembro de 1971, centenas de integrantes de gangues se reuniram em um clube do Bronx e assinaram um documento histórico, que iniciou um período de paz e colaboração entre os grupos.

Além de diminuir a violência na cidade, o tratado teve um efeito incrível na cultura musical nova-iorquina – e, por consequência, mundial: foi a partir dali que as gangues passaram a não brigar mais com os punhos, mas com a música. Cada uma virou um grupo de DJs, MCs, dançarinos e grafiteiros, que “enfrentava” grupos rivais em batalhas de rimas e dança. Foi a partir dos escombros da cultura de gangues de Nova York que nasceu o hip hop.

Um dos entrevistados do filme é Kevin Donovan, mais conhecido por Afrika Bambaataa, um DJ, músico e ativista que transformou a gangue de rua do Bronx do qual era membro, a Black Spades, no Zulu Nation, um grupo de jovens que organizou incontáveis shows e festas e ajudou a criar a base da cultura hip hop.

Os próprios Ghetto Brothers formaram sua própria banda, com Benjy Melendez nos vocais, e faziam uma empolgante mistura de rock, funk e música latina. Ouça:

E aqui, os Ghetto Brothers tocando numa rua de Nova York:

“Rubble Kings” merece ser visto. O documentário – coproduzido por Jim Carrey! - mostra como um período violento e cinza de uma cidade criou a base de uma revolução sonora, estética e comportamental que tomou o mundo.

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