ELA (HER) - Trailer Oficial #2 por thevideos no Videolog.tv.
Você já viu esse filme antes: no futuro, humanos usam tecnologia para se tornar cada vez menos humanos. Desde “Metropolis”, o conceito de futurismo asséptico e impessoal fascina cineastas e público.
O novo filme de Spike Jonze – “Ela”, seu quarto filme em 15 anos – faz parte desse universo de filmes que usam o artificialismo do mundo futurista como pano de fundo para um desfile de solidões e corações partidos.
Na primeira cena do filme, Theodore Twombley (Joaquin Phoenix) olha diretamente para a câmera e abre o coração, numa declaração de amor sincera e emocionante. A câmera se afasta, e percebemos que ele está conversando com uma tela de computador.
Na verdade, Theodore trabalha em uma empresa que vende cartas de amor manuscritas. Ele narra as cartas para o computador, que põe as palavras no papel e imprime as cartas em uma caligrafia bonita. Ao longo do filme, Jonze vai usar muitas vezes - exageradamente, aliás - esse artifício de contrapor situações aparentemente “humanas” a outras em que os personagens não conseguem discernir o real do artificial.
Theodore é um homem triste. Acaba de se separar de sua esposa, Catherine (Rooney Mara), e está traumatizado pela experiência. Mas sua vida muda quando contrata os serviços de “Samantha”, um sistema operacional com quem conversa e que o ajuda a organizar sua vida. Scarlett Johansson faz a voz de Samantha, e se você passasse o dia todo ouvindo Scarlett sussurrando em seu ouvido, provavelmente também se apaixonaria.
Mas Spike Jonze é esperto demais para transformar esse conto de fadas cibernético em um drama fatalista de desumanização pela tecnologia, e uma coisa fantástica acontece com Theodore: o contato virtual com Samantha desperta nele uma humanidade há tempos anestesiada.
Será possível um homem se apaixonar por uma máquina? E esta, poderá retribuir? Em que ponto o amor virtual se transforma em verdadeiro - se é que se transforma?
A exemplo dos outros filmes de Jonze, “Ela” parece ter uma premissa mais interessante que sua realização. A impressão é que o diretor estica a história para dar a ela uma gravidade que, no fim, ela não tem. Se fosse um curta, ou talvez um média-metragem, “Ela” poderia ser uma pequena jóia, mas as duas horas e pouco de duração acabam por arrastar a trama, e a conclusão não poderia ser nada senão anticlimática.
Os perigos de ter um “autor” como Jonze no comando de um projeto é não ter ninguém para alertá-lo do risco da indulgência, e “Ela” sofre de uma certa soberba. Jonze parece mais interessado em sensações do que em ritmo. Na quarta ou quinta cena dispensável – como a longa imagem em macro mostrando poeira voando pelo quarto, ou a oitava vez em que multidões aparecem falando sozinhas pela rua, hipnotizadas por seus próprios sistemas operacionais – você está louco para que a história chegue logo a uma conclusão.
Jonze faz parte de uma geração de cineastas talentosos surgida no fim dos anos 90, junto com a ex-namorada, Sofia Coppola, e o francês Michel Gondry. Sempre que assisto aos filmes dessa turma tenho a mesma sensação: parecem videoclipes estendidos (a bem da verdade, Sofia Coppola parece te se livrado desse maneirismo).
“Ela” é uma ótima ideia, esticada ao ponto de saturação. Não deixa de ser uma boa experiência no cinema, mas seria melhor se não espancasse o espectador com tanto significado.
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