O COI (Comitê Olimpico Internacional) avisou, de forma cortês e diplomática: não aguenta mais os atrasos nas obras para as Olimpíadas do Rio de Janeiro e vai enviar à cidade um interventor, Gilbert Felli, para “resolver os problemas de cronograma”.
Felli tem 66 anos e nasceu na Suíça. Por mais competente e zeloso que seja, vai penar por aqui. Gostaria muito de ver como ele se sai chafurdando na lerdeza, burocracia, incompetência, desleixo e esculacho de nosso poder público.
Taí um documentário sensacional: “Uma semana na vida de Gilbert Felli”. A ideia seria acompanhar os primeiros sete dias de sua “intervenção” na terra do samba, e ver se o coitado sobrevive. Eu acho que ele volta correndo pros seus queijos e fondues, assim como fez Maria Silvia Bastos, chefona da EOM (Empresa Olímpica Municipal), responsável pela execução de obras municipais para as Olimpíadas, que pediu demissão há 15 dias.
Quatro anos e meio depois da escolha da cidade como sede das Olimpíadas e a pouco mais de dois anos dos Jogos, a situação das obras parece calamitosa. Vejamos:
- O Engenhão, palco das competições de atletismo (e que, é bom lembrar, foi construído para o Panamericano de 2007), está fechado há quase um ano para obras estruturais, depois de sofrer risco de desabamento de sua cobertura, e só deve ser reaberto em 2015, quando então terá de passar por obras imensas para aumentar sua capacidade em 15 mil lugares.
- O Parque Olímpico de Deodoro, onde serão realizadas competições de onze modalidades, incluindo basquete, esgrima, tiro, ciclismo mountain bike e hóquei sobre a grama, ainda não saiu do papel. As provas de canoagem – que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, sugeriu fazer em Foz do Iguaçu – vão exigir a construção de um rio artificial. Paes diz que está “perdendo o sono com Deodoro”, e não é para menos: as obras ainda não foram nem licitadas.
- A Baía de Guanabara, onde acontecerão as provas de vela, continua um nojo. O Rio prometeu que 80% do esgoto da cidade seriam tratados até as Olimpíadas, mas esse número, hoje, não passa de 34%. Integrantes da equipe de vela da Irlanda estiveram no local, no fim de 2013, e ficaram apavorados com o esgoto e os detritos. Até a carcaça de um cavalo viram boiando na Baía. A prefeitura do Rio, como de hábito, pensa em soluções paliativas, e promete a contratação de mais sete “ecobarcos”, para recolher lixo flutuante. Numa surpreendente explosão de sinceridade e admissão da própria incompetência, o subsecretário de Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, Carlos Portinho, disse que tirar lixo flutuante da Baía de Guanabara é como “enxugar gelo”.
- No Parque Olímpico da Barra, onde devem ocorrer (escrevo “devem” porque ninguém sabe, a essa altura, se ocorrerão mesmo) provas de 15 modalidades, incluindo basquete, judô, handebol, tênis, saltos ornamentais, pólo aquático e natação, as obras estão atrasadas e operários fazem greve. Semana passada teve até tiro no local, e não era modalidade olímpica.
Nesse cenário de caos, o Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, tranquiliza a nação: está tudo dentro do prazo, garante. Vale lembrar que Rebelo também garantiu que o estádio construído com dinheiro público para a Copa em Manaus iria ajudar o futebol amazonense e foi desmentido pelos próprios clubes locais, que já avisaram que não vão jogar lá devido ao alto custo de manutenção. Enquanto o Ministro diz que está tudo bem, membros do COI garantem que as obras estão atrasadíssimas, e pressionam a entidade a buscar alternativas, caso o Rio não tenha condições de sediar as Olimpíadas. Em quem você acredita?
P.S.: Esse texto deveria ser publicado na segunda, mas, por engano, foi antecipado para o sábado, dia em que normalmente não publico. Assim, ficará no ar e o próximo texto inédito será publicado terça de manhã.
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