Quem mora em cidade turística, seja no litoral ou na serra, nunca reclama de feriadões. Essas cidades vivem do turismo. Quanto mais gente gastando dinheiro em pousadas, restaurantes e bares, melhor. Que venham aos montes.
Mas a proximidade de feriadões exige um planejamento adequado por parte de moradores. Todo mundo sabe que supermercados, padarias, farmácias, açougues e depósitos de bebida viram cenário de filme apocalíptico durante o feriado, com multidões se engalfinhando pela última lata de óleo ou o último engradado de cerveja. É "Mad Max" total, cada um por si.
Há uma lista de tarefas que devem ser realizadas antes da chegada das multidões: encher a geladeira, a caixa d’água e o tanque do carro, estocar água mineral, comprar pilhas novas para as lanternas e querosene para os lampiões, verificar o estoque de remédios para enxaqueca e de espirais contra mosquito.
Enquanto turistas se divertem nas praias, rios e cachoeiras, moradores se trancam e esperam o caos passar. É o que fazemos aqui em casa: geladeira cheia, uma pilha de DVDs, e muita paciência. Sair, só em último caso.
Ano passado, alguns amigos nos visitaram durante a Semana Santa. Foi um pandemônio: os coitados demoraram doze horas para chegar (moramos em Paraty, a 300 km de São Paulo) e mais doze horas na volta. A estrada estava puro AC/DC: a Highway to Hell. A família se hospedou numa praia próxima à cidade. O lugar estava tão cheio que eles precisavam acordar às seis da manhã para curtir uma prainha mais vazia, sem o perigo de ver marmanjos fazendo pirâmides humanas na areia. A filha adolescente fez um diário da aventura e escreveu a melhor frase que já li sobre férias frustradas: “Hoje saí da pousada e pisei num cocô. Espero que seja de cachorro”.
Quem trabalha com turismo fatura muito nesses feriados, mas também sofre com problemas de logística. Ontem, fui ao escritório da fornecedora de energia da região, a Ampla, tirar uma segunda via de nossa conta, já que a empresa não consegue entregar uma conta em casa faz cinco meses. Dentro do lugar, o clima era tenso: havia um estrangeiro grandão e cabeludo – acho que era alemão - que mais parecia roadie do Slayer, segurando um cachorro enorme na coleira. O bicho parecia um camelo.
“Eu estarrr sem lush faz cinco diash! P...ta que parriu! Cinco diash uma poujada sem lush! Turixta tomando banho gelado! E voxêis não fajem porra nenhuma! Como eu faxo no ferriadão? Mando turixta tomarrr banho gelado?” Vi uma funcionária da empresa falando ao telefone: “Aquele cliente de ontem tá aqui de novo... É, ele voltou... E tá com o cachorro.” O alemão estava furibundo: “Vou quebrar exta merrrda toda! Soltarrr o cachorro!”
Bom feriadão a todos. O blog volta quarta-feira.
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