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EM DEFESA DO FINAL INFELIZ

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Zapeando a TV, vi “Os Candidatos”, comédia com Will Ferrell e Zach Galifianakis, sobre a briga de dois políticos a uma vaga no Congresso americano pelo estado da Carolina do Norte (aqui, os horários das reprises).

Ferrell faz Cam Brady, um veterano da política local, corrupto e safado, que só quer saber de comer as assessoras. Seu oponente é Raymond Huggins (Galifianakis), diretor de turismo de uma pequena cidade, um “nerd” bondoso e honesto, cuja idéia de diversão é fazer guerra de travesseiros com a família e levar lambidas de dois pugs.

“Os Candidatos” começa muito bem. Brady sai na frente das pesquisas, depois de divulgar um vídeo ridicularizando a "nerdice" de Huggins. Mas este reage, e sua campanha ganha impulso depois de um debate, quando Brady tenta agredi-lo e acaba acertando um murro na cara de um bebê. A cena é engraçada demais.

O filme vai ficando cada vez mais perverso: os candidatos começam a fazer de tudo para acabar com a reputação do outro, incluindo seduzir a esposa do rival, gravar confissões embaraçosas dos filhos do concorrente e até associar o adversário ao terrorismo islâmico. Desde “Borat”, uma comédia do cinemão comercial não era tão ridiculamente abjeta.

Mas o terço final do filme é uma decepção. Não vou contar demais, mas dá para dizer que os personagens têm uma crise moral repentina. É ridículo e estraga todo o filme. O que era uma comédia negra sobre os exageros da política vira uma história moralista e careta.

Finais felizes não são novidade em Hollywood. É só comparar os contos de fadas originais e suas versões para cinema, ou mesmo histórias como “Frankenstein”, para ver como o cinema sempre se preocupou em não deixar o espectador sair triste da sala.

Nos anos 30 e 40, os estúdios diziam que o público estava cansado de guerra e pobreza, e que ninguém ia ao cinema para se entristecer (leia aqui,  em inglês, uma matéria interessante sobre o assunto, no site da BBC). Mas e hoje? Por que ainda insistem em finais felizes?

Depois de décadas de testes com espectadores, pesquisas de mercado e análises de comportamento, Hollywood chegou a um estágio tão avançado de mediocrização de conteúdo, que filmes são feitos para NÃO surpreender. Qualquer coisa fora do padrão e que fuja daquilo que o público médio espera, é visto com reticência. Filme é um produto e só sai da linha de montagem para o cinema depois de testado e aprovado pelo gosto médio.

O que é difícil entender é como um filme pode ser ousado até certa parte, e depois deixar de sê-lo. Será que o público gostaria menos de “Os Candidatos” se a conclusão fosse tão perversa e engraçada quanto o início? Ou a mudança de tom, no fim, seria um indício de que os exageros da primeira parte eram só um aperitivo, uma pequena liberdade, revogada assim que a conclusão se aproxima? “Filhinho, você já brincou bastante, agora sobe no quarto de vai fazer o dever de casa”.

P.S. 1: Segunda (5) e terça (6) da semana que vem, publico a cobertura completa do Austin Psych Fest, festival de música psicodélica de Austin, no Texas. 

P.S. 2: Estou em viagem e com dificuldade para moderar comentários. Tentarei publicar os comentários quando possível, mas não terei tempo de respondê-los. A seção de comentários voltará a seu estado normal de interatividade após meu retorno, em 12 de maio. Peço desculpas pelo inconveniente.

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