Felipão deu sorte. Ele, que gosta de se cercar de jogadores obedientes e prontos a abraçar o conceito velho de “Família Scolari” e tem por hábito afastar craques considerados “problema” – impossível esquecer Romário em 2002 – dessa vez não teve nem que pensar: Ronaldinho Gaúcho, o único craque de verdade em atividade no Brasil, caiu de produção incrivelmente nos últimos tempos. Se estivesse jogando a bola que jogou em 2013, o dentuço poderia até criar problemas para Felipão. Não é o caso.
A seleção brasileira é a cara de seu técnico: previsível, chata e sem graça – um reflexo do futebol que se joga hoje por aqui.
Sinto falta de alguém com talento no meio de campo, capaz de enfiar um passe assombroso para um atacante. Mas, para sorte de Felipão, esse “alguém” não existe hoje no Brasil. Ronaldinho está em baixa; Ganso, eterna promessa, tem mais garra pra dar entrevista do que pra jogar bola. Fiquemos então com o meio de campo burocrático que temos hoje.
A favor de Felipão, temos de admitir que o sujeito não abre mão de suas convicções. Deve ser o único, entre 200 milhões de brasileiros, que tem confiança em Júlio César e que acha Henrique melhor que Miranda.
Felipão optou pela juventude – dos 23 convocados, 17 disputarão a primeira Copa – mas isso é mais um reflexo da queda de qualidade de veteranos como Kaká e Robinho do que, propriamente, sinal de vitalidade de nossas novas gerações. E espanta saber que um jogador que só foi chamado para o último jogo antes da Copa, contra a fraquíssima África do Sul, acabou na lista da Copa, como é o caso de Fernandinho.
Bom, é o que temos. Que essa seleção mequetrefe sirva de alerta: é preciso repensar o futebol brasileiro desde a base. Podemos até ganhar a Copa na base dos gritos de Felipão e do apoio da torcida, mas este time está longe de orgulhar alguém. E o pior: reflete exatamente o futebol brasileiro em 2014.
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