Pra começo de conversa: acho a Virada Cultural extraordinária. O evento oferece uma opção enorme de atrações ecléticas e de qualidade. E tudo de graça.
Infelizmente, minhas últimas experiências na Virada não foram das melhores. Como tem virado hábito no país, uma minoria se acha no direito de estragar a festa, confundindo liberdade com vandalismo, ocupação do espaço público com falta de civilidade. É o risco que se corre ao fazer eventos gratuitos e sem limite de público.
Quem esteve na exibição do documentário do Mudhoney, anteontem em São Paulo, teve um gostinho dessa falta de respeito pela coletividade: um grupo de seis ou sete cretinos passou o filme inteiro gritando e fazendo gracinhas, atrapalhando a experiência das mais de 200 pessoas que foram lá só pra ver o filme e o debate com a banda. Coisas do Brasil.
Este ano, a organização da Virada claramente fez uma programação com menos “riscos”, evitando shows de públicos mais, digamos, “animados”, especialmente em horários na madrugada. Estão certos.
Preparei uma sugestão de programação para a Virada Cultural. Aí vai:
18h – Ira! (Júlio Prestes): Não dá pra perder o primeiro show do Ira! com a nova formação. Depois de sete anos sem tocar, vai ser demais ver Nasi e Edgard juntos num palco de novo.
20h – Stanley Jordan (República): o guitarrista norte-americano é velho conhecido do público brasileiro e sempre destrói, com sua “touch technique”, em que toca o braço da guitarra com as pontas dos dedos. Imperdível.
22h – Paul Jackson Trio (República): Imperdível o show do trio liderado por Paul Jackson Jr., com sua fusão de jazz, funk e soul. Veja os caras mandando uma versão de “Sex Machine”, de James Brown e Bobby Bird:
Paul Jackson TRIO: Sex Machine live - Cantine Teanum por thevideos no Videolog.tv.
23h – Uriah Heep (São João): O Heep é daquelas bandas que agradam a fãs de hard rock, de metal e de progressivo. Deve ser divertido.
23h – Monarco (Luz): O lendário sambista da Portela, aos oitentinha, continua mandando bem.
0h - Guilherme Arantes (Líbero Badaró): Um dos nossos maiores hitmakers, Guilherme está numa ótima fase, depois de lançar um disco elogiadíssimo, “Condição Humana”.
1h – Mark Farner (São João): Farner foi líder do Grand Funk Railroad, um dos grupos mais populares do rock americano nos anos 70, que fazia um empolgante mix de blues, hard rock e country rock.
5h - Test - A excelente banda de metal extremo Test, uma dupla que leva ao limite a ideia do "Faça você mesmo", levando o equipamento numa kombi e tocando no meio da rua, ganhou um palco próprio, na esquina de Rua dos Gusmões com Santa Ifigênia, e fez uma programação, literalmente, da pesada, com 15 bandas, incluindo Anti Climax, Ódio Social, Urutu e, o melhor nome, Cadáver em Transe. Legal demais.
5h – Originais do Samba Homenageiam Mussum (Luz): Deve ser surreal ouvir os Originais cantando “Assassinaram o Camarão” às cinco da matina, na Luz. Eu iria.
Os Originais do Samba - Tragédia no fundo do mar (Camarão) por thevideos no Videolog.tv.
9h – Agent Orange (São João): Trio surf-punk californiano do fim dos anos 70, faz shows sensacionais. Diversão garantida.
9h – Pepeu Gomes (Júlio Prestes): Não sei o repertório do show, mas nunca vi um show ruim de Pepeu, um de nossos maiores guitarristas. Tomara que se concentre nas faixas instrumentais e em sua explosiva mistura de jazz e ritmos brasileiros. Seu “Geração do Som” (1978) é um dos melhores discos de guitarra gravados no Brasil.
9h - Guizado interpreta On The Corner-Miles Davis (Rio Branco): Estou curioso pra ver o Guizado interpretando “On the Corner”, um dos discos mais experimentais – e incompreendidos – de Miles Davis.
14h - Hip Hop Cultura de Rua: Thaíde & DJ Hum, Código 13, O Credo, MC Jack (Teatro Municipal): Thaíde & DJ Hum e outros interpretam, na íntegra, a primeira coletânea de rap nacional, lançada em 1988.
15h – Luiz Melodia (Júlio Prestes): Nada mal ver Melodia na tarde de domingo. Outro artista incapaz de fazer um show ruim.
17h – Lydia Lunch (São João): Lydia é a “Riot Grrrl” original, uma poeta e cantora que juntou a urgência do punk, o experimentalismo da vanguarda “No Wave” nova-iorquina e o ativismo feminista, em um trabalho original e único.
18h – Martha Reeves and the Vandellas (Júlio Prestes): Vai ser demais ver a septuagenária Martha mandando alguns dos clássicos que gravou pela Motown, como “Dancing in the Street”, “Jimmy Mack” e “Nowhere to Run”.
Boa Virada Cultural e ótimo fim de semana a todos.
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