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MICHAEL JACKSON: MORTO E FATURANDO

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Discos póstumos sempre cheiram a cadáver.

Por mais que herdeiros, produtores e gravadoras insistam em dizer que estão honrando a memória de um artista morto ao lançar suas sobras de estúdio, é impossível afastar de vez a impressão de trambique ou golpe barato.

Se um músico escolheu não lançar determinadas músicas durante sua carreira, não é absurdo supor que ele não gostava delas e preferiu deixá-las inéditas.

Mas a indústria da música não liga para esses detalhes, e costuma raspar o fundo do barril em busca de qualquer sobra que possa gerar uns trocados. Elvis, Miles Davis, Hendrix, Amy Winehouse, Tupac e muitos outros tiveram suas carreiras estendidas post-mortem. Alguns casos são justificados: Otis Redding gravou (Sittin' On) The Dock of the Bay poucos dias antes de morrer num acidente de avião.

Michael Jackson é outra vítima de necrofilia musical. O Rei do Pop já lançou dois discos desde que morreu, em 2009: “Michael” (2010) e “Xscape”, que acaba de sair. E na longa lista de LPs do além, “Xscape” não é dos piores. Não chega perto de “Off the Wall” e “Thriller”, mas não faz feio.

O disco reúne oito faixas, compostas entre 1983 e 1999. O último álbum de inéditas de Michael foi “Invincible”, de 2001, o que explica a sanha de sua gravadora, a Epic, por material inédito.

L.A. Reid, um músico, produtor e executivo, famoso nos Estados Unidos como juiz do “reality show” musical “The X Factor”, é chefão da Epic e supervisionou a produção de “Xscape”, chamando o produtor Timbaland para dar um banho de loja nas versões “demo” de Jackson.

Timbaland, que trabalhou com Justin Timberlake, Jay-Z e Missy Elliot, convocou um time milionário de produtores pop para ajudá-lo, incluindo Jerome “J-Roc” Harmon (Beyoncé, Chris Brown), a dupla norueguesa StarGate (Rihanna, Shakira, Mary J Blige) e Rodney Jenkins (Brandy, Mariah Carey, Lady Gaga).

Numa jogada de marketing genial, a Epic lançou “Xscape” em uma versão “deluxe”, com as oito músicas produzidas pelo time de Timbaland, mais as oito versões originais de Jackson.

Se você tem interesse em produção musical, vale a pena adquirir a versão “deluxe” e comparar as versões. “Love Never Felt So Good”, faixa que abre o disco, foi gravada por Jacko apenas com piano e voz, numa versão minimalista e crua, mas ficou muito mais empolgante com a orquestração, guitarras, percussão e vocais de apoio colocados pela equipe de Timbaland. Ouça e compare:

 

Michael Jackson - Love Never Felt So Good por thevideos no Videolog.tv.

Michael Jackson - Love Never Felt So Good por thevideos no Videolog.tv.

 

A produção não é exagerada ou intrusiva. Timbaland não é bobo e sabe que meter a mão em músicas de Michael Jackson é quase um sacrilégio. Ele não tentou impor seu estilo, mas criou arranjos que dialogam bem com o estilo de Jackson. É como um decorador que entra em um apartamento inacabado e tenta decorá-lo de acordo com o gosto do cliente, sem impor nada.

O CD “deluxe” traz ainda um documentário de 23 minutos sobre a gravação de “Xscape”, em que Reid, Timbaland e todos os produtores falam do projeto e da responsabilidade de produzir um disco de Michael Jackson sem a presença deste.

É um disco caça-níqueis? Claro que sim. Mas se é para cometer necrofilia musical, que seja a melhor que o dinheiro pode comprar.

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