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O FILME É UMA OBRA-PRIMA… E AINDA TEM A SCARLETT JOHANSSON NUA

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Sob a Pele - Trailer Legendado por thevideos no Videolog.tv.

Duas e pouco da tarde em São Paulo. Na fila de um cinema, oito pessoas esperam para comprar ingresso. Todos homens.

Compreensível: “Sob a Pele” é, como dizem por aí, “o filme em que Scarlett Johansson aparece pelada”. É também uma obra-prima, um filme estranho e fascinante, que vai assombrar seus sonhos – e pesadelos - por muito tempo. Foi dirigido pelo inglês Jonathan Glazer, 49, conhecido pelo clipe de “Karma Police”, do Radiohead, e por dois filmes extraordinários: “Sexy Beast” (2000) e “Birth” (2004).

“Sob a Pele” não é uma experiência fácil. Na sessão, várias pessoas saíram no meio. Não é um filme de ação, mas de climas, de atmosferas. Deixa mais dúvidas que respostas.

Scarlett faz uma criatura – de onde, não fica claro – que anda de van por Glasgow e regiões montanhosas da Escócia, atraindo homens para sexo e os colecionando como presas. Há toques de “O Homem Que Caiu na Terra” (Nicolas Roeg, 1976) e “Fome de Viver” (Tony Scott, 1983), mas “Sob a Pele” é um filme original, tanto na forma quanto no conteúdo.

As imagens são delirantes sem parecer soterradas em computação gráfica. Os efeitos visuais são orgânicos, e a fotografia, quando a criatura vaga à procura de homens, tem um minimalismo de “cinema-verdade”.

E põe “verdade” nisso. Para filmar as cenas em que Scarlett aborda os homens na rua, Glazer montou câmeras escondidas na van. O que você vê na tela não são atores, mas pessoas que a atriz realmente abordou.  Várias cenas da criatura andando por Glasgow, em shoppings, na rua ou em lojas, foram filmadas com câmeras ocultas, o que dá às imagens uma sensação realista e perturbadora.

Em certos momentos, o filme parece um documentário sobre humanos, feito por alienígenas. Glazer monta sequências longas do ponto de vista da criatura, em que ela observa pessoas conversando, namorando, andando pelas ruas, esperando ônibus... e a sensação é de estar vendo nosso mundo pelos olhos deles, assim como nós vemos animais no Discovery Channel.

A trilha sonora, uma mistura gélida de música concreta, ambient, drones esquisitos e sons de violino que perfuram o cérebro, cortesia da compositora Mica Levi, só adiciona ainda mais estranheza e sensação de deslocamento à experiência.

E a escolha de Scarlett Johansson foi uma jogada de gênio. Tivesse Glazer usado uma atriz desconhecida, mesmo que mais nova e deslumbrante, não teria obtido o mesmo efeito. Scarlett epitomiza a deusa inatingível, uma figura divinal que não parece ser desse planeta. Para os homens que ela aborda na rua, vê-la surgir numa van, oferecendo-se a eles, é tão improvável quanto avistar um disco voador.

O filme pode ser interpretado de várias maneiras. Eu o vi como uma parábola sobre a solidão. A criatura caça homens sozinhos e sem família, primordialmente para não atrair atenção para o sumiço deles. Mas fiquei pensando se essas escolhas eram motivadas apenas pelo risco menor de os sumiços serem descobertos, ou se também contemplavam vítimas cujas vidas poderiam ser mudadas pelo amor.

A própria criatura passa por uma transformação, uma espécie de “humanização”, em que parece começar a entender o mundo à sua volta e ser influenciada por ele. Na cena mais arrasadora e impactante do filme, ela assiste a um episódio violento e dramático numa praia, envolvendo uma família, e fica confusa com a variedade e intensidade das emoções que brotam ali.

“Sob a Pele” fala também de isolamento, incapacidade de comunicação, e do ridículo – pelo menos sob o ponto de vista de alienígenas – rituais de sedução dos humanos. Ao nos tornar os objetos estudados e afastar a câmera, podemos nos ver na tela, de uma forma que o cinema nunca havia mostrado antes. É assustador.

P.S.: Morreu anteontem o grande fotógrafo e cinema Gordon Willis, aos 82 anos. Conhecido por seu trabalho em clássicos dos anos 70, como "O Poderoso Chefão" (Francis Ford Coppola), "Manhattan" (Woody Allen) e "Klute - O Passado Condena" e "Todos os Homens do Presidente (Alan J. Pakula), Willis fez fama com suas imagens marcantes e seu domínio absoluto das sombras. Criou um estilo que combinou perfeitamente com os filmes paranóicos e pessimistas da época, e influenciou todos os fotógrafos que vieram depois. Achei no Youtube um interessante filminho sobre Willis, em espanhol, que dá uma ideia de seu estilo e importância. Aproveitem:

Discurso Visual - Gordon Willis por thevideos no Videolog.tv.

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