Anteontem, a presidente Dilma Rousseff declarou: “Garanto que os nossos aeroportos estão preparados para a Copa do Mundo.”
Poucas horas depois, São Pedro desmentiu a presidente: jogou uma chuva em cima de Manaus, derrubando parte do teto do aeroporto Eduardo Gomes e causando alagamentos em vários pontos do aeroporto, cujas obras de ampliação nos custaram quase meio bilhão de reais.
A presidente foi esperta: “preparados” é uma palavra um tanto subjetiva. Prudente, ela evitou dizer “prontos” ou “acabados”, para não correr o risco de ser pega mentindo abertamente, a exemplo de sua já lendária afirmação de que o trem-bala entre Rio e São Paulo estaria pronto para a Copa.
Curioso perceber que, nos últimos tempos, Dilma passou a utilizar outra palavra para referir-se às obras da Copa. No dia 12 de maio, declarou: “Os estádios e aeroportos estão encaminhados”, o que é um eufemismo para “não ficarão prontos a tempo, conforme prometido, e serão empurrados com a barriga pra sempre”.
No mesmo dia em que Dilma contava mais uma cascata, o jornal “The New York Times” publicava uma reportagem arrasadora (leia aqui) sobre a poluição na Baía de Guanabara, local que abrigará as competições olímpicas de vela. O jornal entrevistou vários atletas e dirigentes de federações internacionais de vela, e todos criticaram a imundície da Baía. “Esse lugar é terrível, não dá para fazer uma competição de vela olímpica aqui”, disse o dinamarquês Allan Norregaard, medalha de bronze nas Olimpíadas de 2012 na classe 49er. “Bem-vindo ao lixão que é o Rio de Janeiro”, afirmou um representante da equipe olímpica alemã. O brasileiro Lars Grael, vencedor de duas medalhas olímpicas, disse já ter encontrado, por quatro vezes, cadáveres boiando nas águas da Baía. Deve ser o famoso Mar Morto.
Vale lembrar que a despoluição da Baía de Guanabara foi uma promessa do governo fluminense em 1992, durante a Rio Eco, e que Sérgio Cabral prometeu que 80% do esgoto da Baía seria tratado até as Olimpíadas.
Fiz uma seleção de frases e promessas sobre a Copa e Olimpíadas. Vale a pena ler de novo:
“Nosso projeto é que esteja integralmente pronto [o trem-bala] em 2014 ou pelo menos o trecho entre Rio e São Paulo” - Dilma Roussef, então chefe da Casa Civil, em junho de 2009.
“A opinião do John Coates foi uma opinião isolada, independente, e não reflete a opinião do Comitê Olímpico Internacional” – Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), sobre as declarações do australiano John Coates, vice-presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), de que a preparação para as olimpíadas do Rio eram “as piores” que ele já viu. Detalhe: Coates fez a declaração durante um evento oficial do COI.
“O Aeroporto Tom Jobim será totalmente reformado até 2014” – Eduardo Paes, prefeito do Rio, em 2009. Passei por lá há uma semana e ainda estava em obras. As bagagens de nosso vôo demoraram exatos 82 minutos para sair das esteiras.
“Eu acho que esse estádio de Manaus é importante, como o de Cuiabá também é, para o futebol local” – Aldo Rebelo, ministro do Esporte, em outubro de 2013, rebatendo os questionamentos de que estádios como o de Manaus, que custou R$ 605 milhões, se tornariam elefantes brancos após a Copa. Dois meses após a declaração do ministro, os próprios times de Manaus fizeram questão de desmenti-lo, ao anunciar que não jogariam no estádio por ser custoso demais. O gasto mensal de manutenção do estádio será de aproximadamente meio milhão de reais, e a média de público do campeonato amazonense de 2011 foi de 473 pessoas por partida.
“Faço questão absoluta de garantir que será uma Copa em que o poder público nada gastará em atividades desportivas” - Ricardo Teixeira, então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 2007.
“Os estádios para a Copa serão construídos com dinheiro privado” – Orlando Silva, então ministro do Esporte, em 2007.
“Tudo será bancado pela iniciativa privada” - Lula, então presidente, em 2007.
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