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ROCK GANHA O EPITÁFIO QUE MERECE

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livroforasta ROCK GANHA O EPITÁFIO QUE MERECE

Meu amigo André Forastieri acaba de lançar seu primeiro livro, “O dia em que o rock morreu”.

Difícil escrever sobre o Forasta. Melhor texto de nossa geração, editor de revistas ecléticas e importantes – “Bizz”, “General”, “Herói”- polemista de primeira, sempre às turras com a complacência e as igrejinhas. Fui leitor antes de ser amigo.

Dono de um poder de síntese impressionante, escreve com uma facilidade que dá raiva. Leia “Por que os jovens brasileiros não gostam mais de rock (em uma frase bem longa)” e comprove. Não vou publicar a frase aqui. Compre o livro, mané.

Tem gente que ficou irritada com o título, mas não dá pra discordar. O rock, como nós o conhecemos, já foi pro saco: revistas, rádios, MTV, ideologia, bye bye, so long, farewell. As bandas novas que ouvimos têm carinha de vinte e sonzinho de sessenta. Um de meus discos novos prediletos, “Sun Structures”, do Temples, é o melhor LP de 1967 lançado em 2014.

O tema é perfeito pro Forasta, que sempre curtiu mais o choque que o abraço. E ele disseca nossa necrofilia com a frieza de um patologista. Às vezes dói, mas é necessário. Alguém tinha de fazer. Ainda bem que foi ele.

Não sobra nada: a nova cena indie brasileira – ou “Música Impopular Brasileira” - é colocada em seu devido lugar (e não é o SESC): “uma geração de Tom Zés, com o impacto limitado de seu patrono”. Tem epitáfios de gente bacana como Malcolm McLaren, Lou Reed, Paul Williams (editor da revista “Crawdaddy”), Ari Up e Joe Strummer, e textos sucintos e venenosos sobre Amy Winehouse, Whitney Houston e Adele.

O obituário de Ronnie James Dio - “O deus ridículo do rock” - é um primor. Muita gente só leu o título e caiu matando nas redes sociais. Mas o texto é carinhoso e celebra o heavy metal como o que ele verdadeiramente é: um circo, onde barbados e pais de família vivem numa bolha de eterna adolescência. Dio é ridículo? Claro que sim: imagine seu pai ou avô de mullet, fazendo o sinal do demo e cantando “Holy Diver”. Mas Dio, como o nome diz, era também um “deus”.

O que mais admiro no Forasta é a coragem e paciência de escrever textos que ele sabe que serão incompreendidos e/ou distorcidos.  Saindo do livro, vale lembrar a recente comoção sobre a coluna “16 Razões para não ver ‘12 Anos de escravidão’” (leia aqui) , que causou um verdadeiro tsunami de analfabetismo funcional e desonestidade intelectual.  Era, claramente, um comentário sobre os clichês que tomaram conta dos filmes sobre temas raciais, mas um bando preferiu vê-lo como uma crítica ao filme, que o próprio Forasta diz, no título, não ter visto. O curioso é que ninguém desmentiu nenhuma das 16 razões.  Estou aguardando.

Li “O Dia em Que o Rock Morreu” em uma noite. É curtinho – 184 páginas – e divertido demais. Agora espero pelos epitáfios do cinema, TV e literatura.  Só não demore vinte e tantos anos, xará.

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