Memórias de Salinger - Trailer Oficial por thevideos no Videolog.tv.
Acaba de sair em DVD no Brasil “Memórias de Salinger”, de Shane Salerno, um documentário fascinante sobre J.D. Salinger (1919-2010), um dos escritores mais cultuados – e certamente o mais enigmático – do século 20.
Em 1951, depois de fazer sucesso com histórias publicadas em revistas como “The New Yorker” e “Story”, Salinger publicou seu primeiro romance, “O Apanhador no Campo de Centeio”. O livro narra alguns dias na vida de um rapaz de 17 anos, Holden Caulfield, que é expulso da escola e vai a Nova York. Na metrópole, a solidão e o senso de deslocamento do personagem ficam ainda mais evidentes.
O livro foi um grande sucesso em 1951, mas acabou descoberto por uma outra geração de leitores nos anos 60 e virou uma espécie de manual da contracultura. Muita gente se identificou com a visão pessimista, solitária, confrontacional e anti-establishment de Holden, e o personagem se tornou um símbolo de rebeldia juvenil. Talvez a melhor definição do livro seja a do roteirista Robert Towne (“Chinatown”): “Assim como todo mundo que leu ‘Apanhador’, eu acreditei que ele tinha sido escrito só para mim. Eu era Holden Caulfield.”
O documentário busca explicar, na história de vida de Salinger, a gênese de Holden e de todo o trabalho do autor. O diretor Shane Salerno levou nove anos para fazer o filme e entrevistou cerca de 150 pessoas, entre amigos, parentes, fãs, estudiosos e escritores. Gore Vidal , E.L. Doctorow, Tom Wolfe, Phillip Seymour Hoffman e muitos outros falam do impacto de Salinger em suas vidas e na literatura mundial.
Na verdade, toda a obra do escritor foi influenciada pela carnificina e destruição que presenciou na Segunda Guerra. Salinger participou do desembarque das tropas americanas na Normandia, esteve na libertação de Paris e em campos de concentração nazistas. “O cheiro de corpos queimados nunca sai de suas narinas”, escreveu a um amigo. Durante o combate, aproveitava as parcas horas de descanso para escrever “O Apanhador no Campo de Centeio”. No fim da guerra, sofreu um colapso nervoso.
De volta aos Estados Unidos, ficou famoso com “Apanhador” e “Franny and Zooey” (1961), mas começou a se isolar de amigos e família e a ficar cada vez mais obcecado pelo trabalho. Salinger tinha uma queda por meninas novas. Casou e teve filhos, mas a vida em família não era para ele. O escritor construiu um bunker em casa, onde se isolava por semanas para escrever. Os filhos relatam anos de tortura psicológica e melancolia.
Em 1965, Salinger publicou seu último trabalho e isolou-se cada vez mais em sua casa numa cidadezinha de menos de mil habitantes em New Hampshire. Deu a última entrevista em 1980. O sumiço só fez aumentar o interesse do público. O autor passou a ser perseguido por jornalistas e fãs obsessivos, que chegavam a acampar próximos à sua casa, na esperança de ver e falar com ele. Um dos admiradores relata que conseguiu se aproximar de Salinger, que perguntou: “Você está sob tratamento psiquiátrico?”
Havia boatos de que Salinger escrevia todos os dias, mas ele nunca mais aceitou uma oferta de publicação. Todos os manuscritos iam para um cofre em seu escritório.
Enquanto isso, “O Apanhador no Campo de Centeio” virou uma referência para jovens “problemáticos”. Em dezembro de 1980, Mark Chapman carregava uma cópia do livro quando matou John Lennon. À polícia, disse que pretendia mudar seu nome para Holden Caulfield. Três meses depois, John Hinckley Jr. tentou matar a tiros o então presidente americano, Ronald Reagan. Descobriu-se que Hinckley tinha duas obsessões: um amor platônico pela atriz Jodie Foster, e o livro de Salinger.
Além de um relato emocionante sobre a vida de um artista incomum, “Memórias de Salinger” trata de grandes temas: o conflito entre arte e comércio, a impossibilidade de o artista controlar o impacto de sua obra na vida das pessoas e o esgotamento psicológico que sofre alguém que revela, na página, todos os seus traumas e medos.
Salinger morreu em 2010, aos 91 anos. Segundo o filme, deixou dezenas de trabalhos inéditos e instruções precisas sobre quando e como devem ser publicados, começando em 2015. Estamos na contagem regressiva.
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