Nas listas de lançamentos recentes em DVD vejo um filme imperdível: “Corrida contra o Destino” (“Vanishing Point”, 1971), de Richard S. Sarafian.
Se “Easy Rider” foi o road movie da geração hippie, “Vanishing Point” é o filme-símbolo da geração pós-Altamont, quando o sonho hippie estava morto e os ideais de paz, amor e LSD tinham virado cinza.
Como uma visão, o filme começa sem explicar nada: vemos Kowalski (Barry Newman) chegando a uma oficina mecânica no Colorado e recebendo ordens para levar um envenenado Dodge Challenger até São Francisco, na Califórnia. Ele tem 15 horas para percorrer dois mil quilômetros.
Antes de pegar a estrada, Kowalski faz uma parada num bar infestado de Hell’s Angels, traficantes e outros personagens que parecem saídos de algum faroeste de Sam Peckinpah ou de um livro de Jim Thompson. Encontra um amigo, compra um punhado de anfetaminas e cai na freeway.
Ao melhor estilo “Medo e Delírio em Las Vegas”, Kowalski começa a ser atacado por visões – reais e imaginárias. Ele é perseguido por dois policiais de moto, depois por caipiras nazistas. O filme vira uma “Odisséia” lisérgica a 200 km por hora.
Enquanto isso, Super Soul, cultuado DJ de uma rádio de black music (Cleavon Little) capta as transmissões da polícia e passa a contar, em seu programa, a saga de Kowalski (se isso te fez lembrar a DJ que narra as brigas de gangues em “Warriors”, de Walter Hill, não é coincidência; a personagem é claramente inspirada em Super Soul).
O roteiro de “Vanishing Point” foi escrito por um certo Guillermo Caín, pseudônimo do grande escritor cubano Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), de “Três Tristes Tigres”. E você provavelmente conhece o diretor do filme, Richard Sarafian, de filmes de gângster como “Bugsy”, em que ele, com aquela cara de leão-de-chácara, invariavelmente interpreta um brucutu qualquer.
“Vanishing Point” virou um cult movie. Bandas como Primal Scream e Mudhoney lançaram discos com esse título, George Miller se inspirou nele para fazer “Mad Max”, Steven Spielberg disse que era seu filme predileto e o usou como base de “Encurralado”, Quentin Tarantino homenageou Kowalski em “Death Proof”, e o Guns’N’Roses sampleou uma fala de Super Soul na faixa “Breakdown”.
Só falta você assistir. Mas tome cuidado para não alugar a refilmagem, de 1997.
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