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DO AFEGANISTÃO, UM FILME SURPREENDENTE

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Há muito tempo o cinema não mostrava uma personagem tão forte e complexa quanto a mulher sem nome interpretada pela atriz iraniana Golshifteh Farahari em “A Pedra de Paciência”, de Atiq Rahimi.

Rahimi, um afegão que vive na França desde os anos 80, escreveu um romance e agora dirigiu um filme inspirado no livro. É uma história simples e minimalista, quase toda passada em um quarto, mas que diz muito sobre a vida das mulheres afegãs.

O filme – uma produção francesa e afegã - começa em um apartamento dilapidado por bombas e tiros, localizado em uma cidade em guerra. Uma mulher conversa com um corpo inerte e estendido no chão. O corpo é do marido – também não identificado – um guerrilheiro que levou um tiro no pescoço e está há semanas em estado vegetativo.

A mulher fala com o marido como se ele pudesse responder. Mas não existe diálogo. O homem permanece imóvel e mudo. Mesmo assim, ela faz questão de explicar tudo que está fazendo: “Vou à casa da minha tia pegar água, depois pego as crianças e volto para dar banho em você”.

Aos poucos, vamos descobrindo o passado da mulher e conhecendo outros personagens: seus dois filhos pequenos, uma tia que a ajuda com comida e água e um soldado afegão que invade o apartamento. Também descobrimos como o marido terminou naquela condição.

O roteiro foi escrito por Rahimi em parceria com o grande Jean-Claude Carrière, colaborador frequente de Buñuel, e é um primor de economia. A história vai sendo desvendada em pequenas doses, revelando, sem pressa, toda sua complexidade.

Apesar de sua estética realista, há sequências que parecem um sonho, especialmente as “conversas” entre mulher e marido. A impressão é de que ela só consegue estabelecer uma relação de proximidade e afeto com o marido quando ele está paralisado, e usa essa chance para dizer o que nunca pôde dizer antes.

“A Pedra de Paciência” não é um filme fácil e pode não ser a melhor pedida para um sabadão no Cineplex comendo pipoca. Mas para quem ainda acredita que o cinema pode surpreender, com uma história original e contada de forma surpreendente, periga ser a melhor atração em cartaz. Bom fim de semana.

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