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OK, “TRUE DETECTIVE”, VOCÊ VENCEU…

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true detective harrelson mcconaughey 610x348 OK, “TRUE DETECTIVE”, VOCÊ VENCEU...

Já contei várias vezes aqui no blog que não sou grande fã de séries de TV. Tenho um problema sério com qualquer coisa que me obrigue a acompanhá-la durante muito tempo. Talvez, por isso, nunca tenha me empolgado com novelas, histórias em quadrinhos, álbuns de figurinhas e “O Senhor dos Anéis”.

Nunca vi um capítulo de “Lost”, “24 Horas” e “Mad Men”. Vi quatro ou cinco episódios de “Sopranos”, mas por obrigação profissional, mesma razão pela qual assisti, recentemente, a alguns capítulos de “Breaking Bad”, “House of Cards” e “The Killing”. Sinceramente, não me empolguei com nenhuma. Mas é um problema meu, não das séries.

Perdi qualquer vontade de acompanhar “Breaking Bad” no minuto em que Bryan Cranston jogou um pacote de 40 mil dólares de metanfetamina na privada enquanto o traficante tentava impedi-lo, aos chutes, e outro bandido agonizava no porão com o pescoço preso num cadeado de bicicleta. Tudo era bobo e impossivelmente cool. Parecia um quadro dos Trapalhões dirigido pelo Tarantino. Pode funcionar num longa ou num romance de Elmore Leonard, mas numa série que se estende por anos, acho difícil.

O que mais me incomoda em séries é o fato de as narrativas, ao se adequarem a uma duração pré-definida, resultarem esquemáticas e repetitivas. Não é raro o espectador perceber o roteiro acelerando o arco narrativo para caber em um episódio. Também não consigo gostar das armadilhas de roteiro incluídas para obrigar o espectador a assistir ao capítulo seguinte, e acho inevitável que a história, em algum ponto, passe a se arrastar. Admiro demais quem escreve séries - deve ser um trabalho do cão - mas acho impossível manter o interesse nos mesmos personagens por tanto tempo.

Voltando a “True Detective”: decidi assistir depois que muitos leitores começaram a recomendar a série (obrigado a todos pela insistência!). Mas o que me convenceu mesmo foi descobrir que só tinha oito capítulos e que a segunda temporada terá novos personagens. “True Detective” é mais uma antologia de histórias policiais do que uma série que se arrasta por anos. Excelente.

Gostei muito da trama, da estética gótica e da ambientação: dois policiais, Rust Cohle (Matthew McConaughey) e Eric Hart (Woody Harrelson) investigam uma série de assassinatos em áreas rurais da Louisiana, sul dos Estados Unidos. A Louisiana é um lugar fascinante, com uma rica história de imigração africana e haitiana, uma geografia linda de pântanos, rios e florestas, e uma cultura riquíssima. É um dos berços do jazz e do blues, um lugar místico e repleto de mistérios. Vodu, Louis Armstrong, Truman Capote, William Faulkner e Dr. John, tudo misturado num pote fumegante de gumbo.

Os dois personagens principais da série são bem diferentes: Hart é um tipo mais simplório, um pai de família que não compreende muito bem as divagações filosóficas, niilistas e existenciais do parceiro, Cohle. Este, por sua vez, é um misto de Sherlock Holmes e visionário, sempre com uma visão profunda sobre qualquer acontecimento, por mais mundano que seja. Achei que o roteiro carregou um pouco na caracterização de Cohle. De tão genial e imprevisível, o personagem parece, por vezes, bom demais para ser de verdade.

Gostei de acompanhar a investigação sobre os crimes. Adoro filmes policiais investigativos – “Operação França”, “Zodíaco” – e curti mais os episódios em que Hart e Cohle entrevistam testemunhas e penetram em mundos desconhecidos para mim (sensacionais as sequências numa igreja montada numa lona de circo e numa vila de pescadores em um delta). Já os episódios “de ação”, como um em que Cohle se infiltra numa gangue de motociclistas e acaba numa guerra contra traficantes negros, pareceram forçados e incluídos só para adicionar um pouco de adrenalina à mistura.

No fim, gostei de passar oito horas em companhia de Cohle e Hart. Não me importo com filmes longos – se puderem, assistam a “Red Riding” e “Carlos”, filmes de cinco horas feitos para a TV e divididos em três episódios cada – mas gostei, especialmente, de saber que os detetives não voltarão para a segunda, terceira, quarta ou quinta temporadas.

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