Vivian Maier morreu sozinha e miserável, em 2009, aos 83 anos. Passou os últimos anos de vida catando lixo na rua e vivendo da caridade de amigos, que pagavam seu aluguel e lhe davam dinheiro para comer. Era conhecida como uma mulher excêntrica, que vivia tirando fotos na rua.
Cinco anos depois, Vivian Maier é considerada uma das grandes fotógrafas da segunda metade do século 20 e tem sua obra comparada a pesos-pesados como Robert Frank, Diane Arbus, Helen Levitt e Weegee. Suas fotografias de pessoas comuns, quase sempre capturadas na rua, trazem uma mistura de humor negro e drama, sempre com uma pitada de grotesco. São imagens sublimes.
A história da descoberta da genialidade de Vivian Maier parece obra de ficção. Em 2007, um sujeito de 26 anos chamado John Maloof, rato de leilões de antiguidades, comprou uma caixa de negativos. Eram cerca de 30 mil fotos de Maier. Empolgado pela qualidade do material, ele fez um pequeno site sobre a fotógrafa e publicou 200 imagens na Internet. A reação foi impressionante: centenas e centenas de comentários empolgados. Muitos diziam não acreditar que um trabalho tão bom fosse tão desconhecido.
Maloof começou a pesquisar sobre a vida de Vivian Maier e descobriu que ela ganhava a vida como babá.
Durante mais de 40 anos, Vivian Maier saiu todo dia com uma Rolleiflex para passear com as crianças de quem tomava conta. Não era incomum levar os pequenos a áreas barra pesada, só para fotografar mendigos e velhinhos. Vivian também fotografava as crianças e fazia autorretratos.
Ela fotografava todo dia, mas nunca mostrava as fotos para ninguém. O trabalho era meticulosamente guardado em caixas e lá permanecia. Vivian era obcecada por colecionar qualquer coisa – jornais, botões, moedas – e por guardar registros de tudo que acontecia em sua vida. Além de fotografar, ela fazia filmes em Super-8 e gravava fitas cassete em que falava sobre assuntos do dia.
A história da babá-fotógrafa começou a se espalhar, e logo Maloof estava viajando pelos Estados Unidos organizando exposições das fotos de Vivian Maier. Ele dirigiu, em parceria com Charlie Siskel, um bom documentário sobre a artista, “Finding Vivian Maier”, e editou alguns livros com as fotos. Um deles, "Vivian Maier: Uma Fotógrafa de Rua", acaba de sair no Brasil, pela editora Autêntica.
Vale muito a pena comprar o livro e conhecer o trabalho de Maier. No site oficial da fotógrafa (clique aqui) há uma grande galeria de suas imagens.
Bom fim de semana a todos.
P.S.: O grande fotógrafo J.R. Duran, leitor do blog, mandou o link de um artigo do "The New York Times" (leia aqui) sobre recentes complicações judiciais envolvendo o espólio de Vivian Maier. Aparentemente, um parente distante de Vivian - tão distante que nem a conhecia - agora quer receber seus "direitos" pelo trabalho da artista.
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