Garota Exemplar por danteoliveira7
Nos anos 80 e início dos 90, eu adorava matar tempo vendo filmes vagabundos no Cine Vitória, no centro do Rio. Nessas tardes desocupadas, me diverti a valer com Alexandre Frota enfrentando uma rede internacional de tráfico de pó em "A Rota do Brilho", quase caí da poltrona com Claudia Raia galopando pelada em cima de um cavalo branco em "Matou a Família e Foi ao Cinema", e passei mal de rir com Nuno Leal Maia comandando o jogo do bicho em "O Rei do Rio". Bons tempos.
Um quarto de século se foi, mas a alegria de ver um filme ruim - mas ruim mesmo - continua viva. Para tristeza de muitos, o cinema brasileiro não é mais aquele que amávamos, com dublagens atrasadas em meia hora, som que parecia gravado dentro de um bueiro, atores toscos e diálogos que não faziam o menor sentido. Continua muito ruim e sem imaginação, mas foi tomado por publicitários e diretores de telenovela, que sabem fazer uma porcaria de qualidade técnica impecável.
Hollywood também não lança mais obras-primas do lixo como "Piranhas 2 - Assassinas Voadoras" ou "Tubarão 4", em que o bichão só faltava sair correndo atrás de Michael Caine. A computação gráfica matou a magia trash.
Por isso, fiquei tão feliz em ir ao cinema e ver um abacaxi de verdade como "Garota Exemplar", de David Fincher. Sim, é o cara que fez "Clube da Luta", "Zodíaco" e "A Rede Social". E o filme é baseado no best-seller da americana Gillian Flynn.
Não li o livro, mas dei uma busca nas críticas publicadas quando foi lançado e tive o desprazer de ler um coitado do "The New York Times" comparando Flynn a Patricia Highsmith, e uma aloprada da Salon dizendo que ela merecia o Pulitzer. Como diria o grande Silvio Brito, pare o mundo que eu quero descer.
"Garota Exemplar" é uma história de suspense sobre um casal descoladex, Nick (Ben Affleck) e Amy (Rosamund Pike), que tem a vida perfeita: são ricos, lindos, e trepam até dentro de uma livraria, lendo Jane Austen. Um belo dia, Amy desaparece. As suspeitas caem sobre Nick. Será que ele matou a loura e perfeita Amy para ficar com sua grana? Amy é um tesouro nacional: a moça inspirou os pais a escrever uma série popular de livros infantis chamada - juro - "Amazing Amy" ("A Incrível Amy").
Não vou contar mais porque tentar fazer sentido de uma trama rocambolesca e montypythoniana como esta seria perda de tempo. Em três minutos, lembrei pelo menos uma dúzia de rombos de lógica na história. É ver para crer.
Nos papéis principais, Ben Affleck e Rosamund Pike, dois discípulos da escola de arte dramática Nicolas Cage, que expressam tristeza com olhar de bovino rumo ao abate e simulam dor, medo, angústia e desespero com a mesma expressão de crise de pedra na vesícula, disputam para ver quem consegue ser mais canastra (na entrada do cinema vi este cartaz, que deveria ter tomado como um presságio):
O roteiro, regurgitado pela própria Flynn, tem alguns dos piores diálogos que ouvi desde "O Guarani", de Norma Benguell, e personagens tão caricatos quanto os de "Rio Babilônia" e "Menino do Rio". Só faltou o Sergio Mallandro fazendo Ieié.
"Garota Exemplar" é uma ópera trash de primeira categoria, melhor apreciada numa sessão com os amigos, regada a cerveja e chips com salsa. Diversão garantida.
E te cuida, Nicolas Cage, que Ben Affleck periga tomar seu trono.
P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o início da noite e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.
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