De todos os prêmios literários internacionais de ficção, o que mais me impele a comprar um livro vencedor é o Pulitzer. Dos últimos dez títulos vencedores do prêmio, li seis, incluindo o mais recente, “O Pintassilgo”, de Donna Tartt, que acaba de sair no Brasil.
Vendo a lista dos vencedores dos últimos 11 anos (não houve premiação de ficção em 2012), percebo que o único dos seis livros que realmente me marcou e que pretendo reler é “A Estrada”, de Cormac McCarthy (2007).
Dos últimos três vencedores, penei para terminar dois: “A Visita Cruel do Tempo” (2011), de Jennifer Egan, e “The Orphan Master’s Son” (2013), de Adam Johnson. Gostei de “O Pintassilgo”, apesar de achá-lo longo demais – 728 páginas - e um tanto prolixo.
A história é curiosa – muito resumidamente, um menino de 13 anos perde a mãe em um atentado terrorista em um museu em Nova York e acaba se envolvendo com uma rede internacional de falsificadores de obras de arte – mas poderia ter sido contada em metade das páginas. Estilisticamente, o romance não trouxe nada de novo ou surpreendente.
A maior parte da crítica literária elogiou o livro, mas algumas publicações importantes, como "The New Yorker" e "The Paris Review", o desancaram. James Wood, crítico da "New Yorker" (e autor de um fabuloso livro sobre teoria literária, "How Fiction Works", lançado por aqui com o título “Como Funciona a Ficção”), disse à revista "Vanity Fair": "O sucesso do livro é prova da infantilização de nossa cultura literária, um mundo em que adultos andam por aí lendo Harry Potter'”.
Será que, em alguma outra época, um crítico respeitado comparou um livro vencedor do Pulitzer a um “best seller” de livraria de aeroporto como “Harry Potter”? O que está em crise, a literatura ou o Pulitzer?
Se você pensar nos autores que já mereceram o prêmio – Hemingway, Faulkner, Edith Wharton, Pynchon, Saul Bellow, Philip Roth, Norman Mailer, John Kennedy Toole, etc., – realmente dá pena da seleção dos últimos anos.
Mas quando você lembra que, em 1975, os candidatos ao Oscar foram “Um Dia de Cão”, “Barry Lyndon”, “Um Estranho no Ninho”, “Nashville” e “Tubarão”, e os discos que concorreram ao Grammy foram gravados por Stevie Wonder, Paul McCartney, Joni Mitchell, Elton John e John Denver, percebe que não é só a literatura que já viu dias melhores.
P.S.: Estarei fora até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.
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