Se alguém perguntar que banda inventou o heavy metal, digo que foi o Black Sabbath. O grupo de Ozzy, Iommi, Butler e Ward juntou temas sobrenaturais ao blues e criou a base de quase todo o rock pesado que viria depois.
Mas se tivesse de escolher um grupo que encarna o gênero e que sacramentou as bases sonoras e estéticas do heavy metal, não pensaria duas vezes: foi o Judas Priest.
As duas bandas vêm do mesmo lugar: a cinzenta, feia e industrial cidade de Birmingham, um lugar onde o metal pesado estava em toda parte. Mas o Priest tem uma diferença crucial em relação ao Sabbath: foi a primeira banda que admitiu fazer heavy metal. O Sabbath sempre disse que tocava blues; até hoje, Bill Ward jura que o som deles era jazz amplificado. O Priest não; batiam no peito e se orgulhavam de dizer que tocavam metal.
“Nós sempre voltamos à região de Birmingham para ensaiar”, disse o vocalista Rob Halford à revista “Mojo”. “Aquela região é a que nos fez existir – e a que fez o metal”.
Em 1991, fiz uma entrevista inesquecível – pelo menos para mim – com Rob Halford. Foi na piscina de um hotel de luxo no Rio, um dia antes de a banda subir ao palco do Rock in Rio. Halford tomava sol numa espreguiçadeira, trajando uma sunga fio dental de couro preto. Ao fundo, integrantes do Megadeth davam “bombas” na piscina e faziam “fiu fiu” para sacanear Halford (o vocalista do Priest só sairia do armário em 1998, mas sua homossexualidade era o segredo mais mal guardado da música pop).
Na ocasião, Halford disse que o heavy metal era a “verdadeira música proletária da Inglaterra”. E ele tinha razão.
Há exatos 40 anos, saía o disco de estreia do Judas Priest, “Rocka Rolla”. Mas foi só no segundo LP, “Sad Wings of Destiny” (1976), que o grupo consolidaria as bases de seu som e visual. Para mim, “Sad Wings” é um marco do metal, talvez o primeiro disco pesado em que o blues havia sido completamente extirpado da equação.
Por favor, não venham dizer que eu não gosto de blues, não é esse o ponto. Só estou tentando explicar que o heavy metal, como o conhecemos, nasceu em “Sad Wings of Destiny”: o duplo ataque das guitarras de Glenn Tipton e K.K. Downing, os temas distópicos das letras, o vocal agudíssimo de Halford, os solos longos e a ausência absoluta de grooves blueseiros. Era uma música polida e, ao mesmo tempo, agressiva e épica; metal em toda sua brancura, que só poderia ter nascido num lugar horrendo e barra pesada como Birmingham.
E a estética era nova: um visual sadomasoquista de couro preto e tachas, inspirado em gangues de bikers e clubes gays frequentados por Halford (na “Mojo” há uma descrição hilariante de um encontro dele com Freddie Mercury em uma boate na Grécia); as coreografias dos guitarristas tocando lado a lado; o senso de drama e teatralidade de Halford.
Minha cópia em vinil de "Sad Wings of Destiny" descansa na estante, autografada por Rob Halford, o mais perto que o metal já teve de uma Maria Callas.
P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o meio da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o se comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.
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