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DIDI, DEDÉ, MUSSUM E CHRISTOPHER NOLAN

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Esse Christopher Nolan é um fanfarrão. Um poseur.

Seus filmes são todos iguais: besteiróis vendidos com embalagem de profunda divagação existencial. A fórmula é eficiente: empilhe uma cena sem sentido em cima da outra, adicione diálogos supostamente complexos e eruditos, exclua qualquer traço de humor e estenda a gororoba para umas três horas de duração, simulando conteúdo. Depois de algum tempo, nada faz sentido, mas o público confunde tédio com profundidade e acaba achando tudo genial.

“Interestelar” se passa num futuro próximo. Ficamos sabendo que ocorreu uma guerra e que não existem mais exércitos no mundo. Quase todos os cidadãos viraram fazendeiros e plantam milho para abastecer a população.

Coop (Matthew McConaughey) é um ex-piloto da NASA e mora numa fazenda com a filha, Murph, o filho, Tom, e o sogro, vivido por John Lithgow. Por coincidências ridículas demais para detalhar aqui, Coop acaba chefiando uma missão espacial a três planetas desconhecidos, em busca de um novo lugar para abrigar a humanidade.

O mentor da missão é um físico genial, Dr. Brand (Michael Caine), pai de Amelia, uma das companheiras de Coop na empreitada. Amelia (de Amelia Earhart, sacou?) é interpretada - na falta de uma palavra mais adequada - por Anne Hathaway. Ela é um caso raro de cientista que acredita mais no amor – sim, no amor – que na razão, e deve ter passado boa parte de sua formação lendo “Sabrina” em vez de livros didáticos.

Só há um problema: os tais planetas ficam em outras galáxias. Longe pacas. Para chegar lá, Coop, Amelia e amiguinhos precisam penetrar no “Buraco de Minhoca”, uma espécie de atalho no espaço, colocado lá por seres misteriosos chamados apenas de “Eles” (Eles quem? Alienígenas? Deuses? Os roteiristas?).

Fui ver “Interestelar” num cinema de shopping em São Paulo. Lá pela primeira hora de filme, metade da fila estava dormindo ou em vias de. Cogitei ir embora da sessão. De repente, uma coisa fantástica aconteceu: uma cena tão marcante que mudou toda minha perspectiva sobre o filme.

Coop, Amelia e outro Zé Ruela precisavam desembarcar num planeta para ver se o lugar era propício à vida humana. Mas o tal planeta ficava próximo a um buraco negro chamado Gargantua, onde a gravidade faz com quem cada hora fosse equivalente a sete anos de vida na Terra.

O trio deixa a nave-mãe e usa uma navezinha para chegar ao planeta, um lugar coberto de água (Guilherme Arantes já previa!) e onde acontecem mil aventuras. Amelia, em total mode "Perdidos no Espaço", fica presa debaixo de destroços de uma nave e é salva poucos segundos antes de ser varrida por uma onda da altura de um país. O Zé Ruela morre, como é de praxe com coadjuvantes de filmes de ficção-científica, sempre eliminados em ordem crescente de cachês.

Quando voltam à nave-mãe, Coop e Amelia são recebidos por um tripulante, já corcunda e de cabelo branco: “Eu esperei vocês por 23 anos, cinco meses e quatro dias”, diz o neo-velhinho. Parecia um quadro do "Saturday Night Live". Nesse momento, tive um  incontrolável acesso de riso, que durou pelas duas horas seguintes e acordou toda a fileira.

Foi ali que percebi que “Interestelar” é melhor apreciado como filme cômico futurista-trash, na linha de “O Dorminhoco”, de Woody Allen, e “S.O.S. – Tem um Louco Solto no Espaço”, de Mel Brooks. Eureca.

Dali em diante, foi só alegria: frases como “Se o buraco negro é uma ostra, a singularidade é a pérola dentro dela”, “Vamos usar a cúspide como estilingue” e, a melhor de todas,  “Eles criaram um mundo tridimensional dentro da pentadimensionalidade” assumiram novos significados – ou a total ausência deles.

Um parêntese: certa vez, fui entrevistar James Cameron. Eu havia acabado de assistir ao péssimo “Velocidade Máxima 2” e disse a Cameron que o filme todo parecia uma desculpa para o diretor filmar a cena final, em que um navio gigantesco destrói um cais. Cameron disse que era comum cineastas começarem a pensar um filme pelo final. “Só há um problema nisso”, afirmou. “É quando você escreve o filme todo sem fazer muito sentido, só para justificar a cena final”.

Vendo “Interestelar”, lembrei a frase de Cameron. Há várias sequências espetaculosas, claramente pensadas antes de se criar um contexto para elas. A "solução" para a questão central do filme - quem são "Eles" e como atraíram a missão de Coop - é uma delas. Claro que ninguém espera muita lógica de um filme desses - o gênero não é chamado ficção-científica à toa- mas o drama precisa fazer algum sentido, sem apelar a soluções milagrosas para "amarrar" tudo no final.

O roteiro parece um FAQ corporativo: toda frase explica uma pergunta ou charada colocada na frase anterior. E a trama é tão óbvia que todas as “surpresas” são percebidas pelo menos uma hora antes. Vejamos: o filme começa com cenas de entrevistas com velhinhos, que falam de suas vidas no passado. Pouco depois, Coop conversa com a filha e explica como o tempo demora mais a passar nos lugares longínquos que ele vai explorar. “Isso quer dizer que, quando você voltar, você e eu podemos ter a mesma idade?” pergunta a menina.

O resto é com vocês.

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