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FOO FIGHTERS É UM MAL NECESSÁRIO

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Em 1989, o grupo brasileiro de hardcore Ratos de Porão tocou num squat em Amsterdã chamado Van Hall. Durante um almoço vegetariano comunitário, João Gordo, o cantor do Ratos, fez amizade com o baterista do grupo punk americano Scream, que também se apresentava no lugar. João comprou até discos da mão do cara.

Pouco menos de dois anos depois, João viu o clipe de “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, na MTV. “Pera aí, eu conheço esse baterista”, pensou João. Era, claro, Dave Grohl.

A historinha mostra que Grohl, em pouco tempo, deixou de tocar em pocilgas para 30 pessoas para ser baterista da banda de rock mais popular e influente do início dos anos 90. E ajuda a entender como ele virou uma ponte entre o underground e o mainstream.

Hoje, Grohl é um dos artistas mais poderosos do pop. Amigo de Paul McCartney, Elton John e David Bowie, lota estádios com o Foo Fighters e tem carta branca de gravadoras e TVs para fazer o que quiser. Mesmo assim, não esquece as raízes.

Prova disso é a série documental “Sonic Highways”, que dirigiu para a HBO. Na série, ele viaja para oito cidades importantes da música norte-americana – Chicago, Washington D.C., Nashville, Austin, Los Angeles, New Orleans, Seattle e Nova York – entrevista músicos locais e conta a história da cena musical de cada uma. No fim de cada episódio, o Foo Fighters grava uma canção em um estúdio famoso da cidade.

O canal BIS está apresentando a série, todo domingo, às 20h30. Hoje, às 17h, será reapresentado o segundo episódio, sobre Washington D.C..

No primeiro episódio, Grohl foi a Chicago e entrevistou artistas importantes da cena local, como o bluesman Buddy Guy, o guitarrista do Cheap Trick, Rick Nielsen, e a cantora Bonnie Raitt. Mas boa parte do episódio foi dedicado ao polêmico, amado e odiado Steve Albini, líder do Big Black e um dos produtores mais requisitados do rock (Nirvana, Pixies, PJ Harvey, Jesus Lizard, etc.).

No segundo capítulo, em Washington D.C., Grohl falou com Pharrell Williams (The Neptunes) e integrantes do Trouble Funk, heróis da cena de Go-go funk dos anos 70, mas também usou o programa para encher a bola de seus heróis de adolescência, como o grupo de hardcore Bad Brains e Ian MacKaye (Minor Threat, Fugazi), criador da mitológica gravadora Dischord.

Que outro programa na TV, hoje, mostra cenas do Bad Brains em ação? Ou trechos de apresentações do Fugazi? Ou uma longa entrevista com Steve Albini? Ou depoimentos de integrantes de Jesus Lizard, Naked Raygun e Scream? Não consigo pensar em nenhum.

Claro que Dave Grohl não está fazendo isso por caridade. Ele sabe que ninguém mais vende discos e que um projeto audiovisual desses pode render uma ótima divulgação para o Foo Fighters. Tanto que a banda acaba de lançar um CD que leva o mesmo nome da série, “Sonic Highways”, reunindo as oito canções gravadas em diferentes cidades.

Acho o som do Foo Fighters chatíssimo. É rock de arena genérico, com refrão pra cantar junto, uma pouco de distorção pra apelar à molecada e sempre – mas sempre mesmo – usando a fórmula parte lenta-barulho-parte lenta, que o Nirvana aprendeu com o Pixies.

Mas vejo o Foo Fighters como um mal necessário. A gente até atura os discos, se continuarem dando grana e poder para Dave Grohl fazer projetos legais como esse “Sonic Highways” e o documentário “Sound City”, sobre o famoso estúdio onde boa parte do melhor pop-rock dos anos 70 – Fleetwood Mac, Neil Young, Elton John, Cheap Trick, Santana – foi gravado.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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