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PAPAI NOEL, ME DÁ A COLEÇÃO DO CRAMPS?

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lux interior poison ivy records PAPAI NOEL, ME DÁ A COLEÇÃO DO CRAMPS?

Não consigo pensar em um presente de Natal melhor: a Vengeance, gravadora dos Cramps, está relançando diversos discos da banda em vinil, MP3 e CDs com faixas-bônus (o site www.midheaven.com vende os títulos em todos os formatos).

No início do ano, a gravadora já havia lançado os dois primeiros discos do grupo, os clássicos “Songs the Lord Taught Us” (1980) e “Psychedelic Jungle” (1981). Agora chegam outros sete: “A Date With Elvis” (1986), “Stay Sick” (1990), “Look Mom No Head!” (1991), “Big Beat from Badsville” (1997), “Fiends of Dope Island” (2003) e dois discaços ao vivo: “Smell of Female” (1983) e “Rockin' n' Reelin' in Auckland New Zealand” (1987).

Outro grande disco, “Flamejob” (1994), não foi relançado por questões contratuais com a gravadora que os lançou originalmente. Tomara que saia logo.

Meus favoritos são “Songs the Lord Taught Us”, “Psychedelic Jungle”, “A Date with Elvis”, “Stay Sick” e “Smell of Female”, mas a verdade é que o Cramps nunca lançou um disco ruim. Se puder, compre todos.

De todas as bandas que acabaram subitamente, o Cramps foi a que me deixou mais triste. A morte de Lux Interior, em 2009, aos 62 anos, foi uma surpresa, e o fato de eles nunca terem pisado no Brasil, uma frustração imensa.

Nesse clipe, a banda toca na Holanda, em 1990, e dá uma entrevista no camarim. A primeira resposta é uma pérola: quando o repórter comenta que Lux parece “perder o controle” em cima de um palco, ele responde: “Sim, mas não é esse o objetivo?”

Já escrevi muito sobre o Cramps e não vou me repetir. Mas separei dois textos sobre a banda.

O primeiro (leia aqui) foi publicado em fevereiro de 2014, no quinto aniversário da morte de Lux, e traz algumas das melhores frases do vocalista.

O segundo é mais raro: trata-se da “Discoteca Básica”, seção da finada revista “Bizz”. O texto foi publicado em outubro de 1998 e celebra o disco “Songs the Lord Taught Us”, LP de estreia do Cramps. Aproveite:

SONGS THE LORD TAUGHT US

Rockabilly, psicodelia dos grupos de garagem dos anos 60 e microfonia, temperado pelo que a cultura pop já produziu de mais podre: este é o universo de Lux Interior e Poison Ivy, do Cramps.

Os dois se conheceram na Califórnia em 1972, adoravam rock primitivo, pessoas estranhas e alucinógenos. Casaram-se e se mudaram para Nova York, dispostos a montar uma banda. Ali conheceram Bryan Gregory, louco de pedra, fanático por misticismo e vodu - que mal sabia tocar guitarra. Depois, recrutaram o baterista Nick Knox. Estava formada a gangue.

Os Cramps batizaram seu som de psychobilly - rockabilly psicodélico - e fizeram fama. Na Inglaterra, Stephen Morrissey (mais tarde, vocalista dos Smiths) fundou o primeiro fã-clube do grupo. Nos EUA, atraíram a atenção de Alex Chilton, líder do lendário combo pop Big Star, que produziu Songs the Lord Taught Us por um cachê de fome. Chilton exigiu que a maioria das faixas fossem gravadas ao vivo no estúdio. Lux tratou as gravações como show: se jogava no chão, destruía cadeiras e pulava sobre os amplificadores.

Songs the Lord Taught Us abre com a clássica "TV Set", com sua batida marcial de bateria e um riff maravilhosamente imundo. "Sunglasses After Dark" tem aquela microfonia linda e um solinho new wave que só os Cramps teriam a cara-de-pau de fazer. "What’s Behind the Mask" tem uma letra hilariante ("Por que você não tira essa máscara? / É problema de pele / Ou um olho a mais?"). "Garbageman" é obra-prima. "Zombie Dance" goza da platéia modernosa de Nova York, que ficava parada vendo a banda se matar no palco; "The Mad Daddy" é uma homenagem a Pete "Mad Daddy" Myers, um DJ de Ohio que Lux idolatrava; e "Mystery Plane" resumia a filosofia da banda na frase: "Eu não consigo me identificar com este mundo, então nem tento."

Incluindo covers dos Sonics - grupo de garagem dos anos 60 ("Strychnine") -, do pioneiro do rockabilly Johnny Burnette ("Tear It Up") e "Fever" (a mesma gravada por Madonna) de Little Willie John, o disco não envelhece.

Os Cramps não abraçaram o passado do rock’n’roll por oportunismo, eles vivem no passado. Para Lux e Ivy, o mundo acabou em 1965. Sua missão é mostrar como ele era mais divertido e irresponsável.

 

P.S.: Amanhã publico minha lista dos melhores discos do ano. E sexta, a dos melhores filmes.

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