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ATÉ TU, LAERTE?

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 ATÉ TU, LAERTE?
“Isso é um gesto de uma agressividade e de uma violência absurdas. Eu continuo a favor da liberdade de expressão. Continuo achando que deve existir, mas que existe num mundo que também não pode ignorar um contexto de maioria religiosa e mexer com os dogmas daquela religião impunemente.

É uma polêmica bastante ambígua, cheia de lados. Faço questão de levar todos esses lados em conta.

Não acho que deve haver liberdade de expressão pra quem tá a fim de fomentar o ódio, o machismo, a homofobia e o racismo. Mas eu também sou a favor da liberdade de expressão – o humor sem liberdade de expressão morre.”

Laerte, cartunista, à “Folha de S. Paulo”.

De todas as declarações sobre o atentado ao “Charlie Hebdo”, a que me deixou mais consternado foi esta. Não só pelo conteúdo, mas pelo autor.

Nunca poderia imaginar que Laerte achasse normal tirar a liberdade de expressão de alguém, mesmo a de um machista, homofóbico ou racista.

Laerte, para mim, sempre foi um farol de liberdade de expressão, um artista que falou sobre temas delicados – gênero, sexualidade, comportamento, homofobia – da maneira mais aberta, transgressora e genial.

Saber que ele se preocupa com “o contexto de maioria religiosa” e com dogmas de certa religião foi um choque. E o fim da frase, "num mundo que também não pode (...) mexer com os dogmas daquela religião impunemente”, foi uma estaca no coração.

Claro que Laerte não está defendendo a censura. O que ele quis dizer – espero que eu tenha entendido corretamente – é que precisamos tomar cuidado com o que dizemos e que mexer com certos dogmas pode causar punição. E isso é um absurdo.

Ninguém tem de “tomar cuidado” com nada. Para ofensas, calúnias e palavras racistas, existe a lei. Racismo é crime. Quem se sentir ofendido tem todo o direito de processar o autor das palavras caluniosas e preconceituosas.

Agora, é muito fácil defender liberdade de expressão para opiniões com as quais concordamos. O difícil é aceitar que esse direito precisa ser estendido também a quem nos repugna.

No último parágrafo, Laerte se contradiz: ele é a favor da liberdade de expressão, mas não para todo mundo. Como se existisse “meia” liberdade.

E a última frase, “o humor sem liberdade de expressão morre”, é perfeita. Com um adendo: se o humor precisar, como sugere Laerte, olhar por cima do ombro para decidir se publica ou não uma opinião, estará morto.

P.S.: Estarei sem acesso à Internet até umas 11h. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.

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