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NOVA YORK OU CALIFÓRNIA?

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nysf NOVA YORK OU CALIFÓRNIA?
Muitos leitores escrevem para o blog perguntando sobre a experiência de viver no exterior. Fui correspondente de jornais nos Estados Unidos por oito anos, primeiro em Los Angeles e depois em Nova York, além de ter morado no país por um bom tempo quando adolescente, e posso falar um pouco sobre isso.

Pra começo de conversa, acho que qualquer experiência fora do Brasil é válida. Morar em outro lugar nos dá uma perspectiva diferente sobre nosso próprio país. Nada como a distância para fazer enxergar com mais clareza o que o Brasil tem de bom e de ruim.

Conheço bem algumas cidades norte-americanas – Nova York, Los Angeles, São Francisco, Washington, Chicago e Boston – além de ter passado algum tempo em Seattle, Vancouver e Portland. Recentemente, estive em Austin e gostei demais. Voltarei lá este ano.

Meus lugares prediletos na América do Norte são, disparado, Nova York e São Francisco. A primeira é uma megalópole fervilhante, com 8,5 milhões de pessoas espremidas em 789 km2 (ou 10.700 habitantes por km2, densidade populacional mais de três vezes superior a de Los Angeles), enquanto São Francisco é uma “grande pequena cidade”, com uma população - 837 mil habitantes - menor que a de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mas uma vida cultural absurdamente rica.

Nos Estados Unidos sempre existiu uma rixa entre as costas leste e oeste. Os nova-iorquinos zombam de uma suposta falta de cultura da Califórnia (quem não lembra a famosa esculhambada que Woody Allen dá em Los Angeles em “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”: “Não quero viver numa cidade onde a única vantagem cultural é poder entrar à direita no farol vermelho”)? Já os californianos criticam o esnobismo nova-iorquino. Numa recente pesquisa feita no país (veja aqui), os americanos votaram em Nova York como a cidade mais rude a arrogante dos Estados Unidos. São clichês, claro, mas que possuem um fundo de verdade. De fato, Los Angeles é uma cidade muito ligada ao culto a celebridades, e Nova York não é exatamente conhecida pela gentileza de seus cidadãos.

Se eu pudesse escolher uma cidade para morar nos Estados Unidos, hoje, com dois filhos pequenos, iria para São Francisco. Nova York tem uma oferta muito maior de atividades culturais (é impossível passar um dia na cidade sem achar um show, uma exposição, uma peça ou uma palestra bacana para ir) e de restaurantes, mas gosto demais do tamanho de São Francisco e da oferta de atividades ao ar livre. O sistema de ciclovias é uma beleza, e basta sair um pouco da cidade para achar parques lindos para caminhar e pedalar.

Outra vantagem da costa oeste é o clima. Quem mora no Brasil pode achar São Francisco, com suas rajadas de vento, um tanto fria, mas nada que se compare ao inverno em Nova York. Conheço gente que adora a neve e as temperaturas abaixo de zero, mas eu não me incluo nesse grupo. Acho neve linda por meia hora. Mas experimente passar dois meses trancado em casa por causa de nevascas, como já aconteceu comigo em Nova York, e dá para entender porque Jack Nicholson terminou daquele jeito em “O Iluminado”.

Não é nada barato morar em Nova York ou São Francisco. Numa recente lista publicada pelo site da rede de TV CBS (veja aqui), a região metropolitana de Nova York ficou com três posições entre as cinco cidades mais caras do país: Manhattan em 1º, Brooklyn em 2º e Queens em 5º. São Francisco ficou na quarta posição, enquanto Honolulu, no Havaí, ficou em terceiro.

Mas uma coisa precisa ser levada em conta: a imensa quantidade de coisas que você pode fazer de graça ou quase de graça.

Quando morei em Nova York, nos anos 90, quase não precisava alugar filmes em locadoras, já que a oferta do acervo da Donnell Library, parte do sistema da New York Public Library, era descomunal. A Donnell tinha um acervo fantástico de filmes de arte, inclusive em película. Você podia reservar uma cabine particular e assistir a filmes antigos em 16mm. Passei uns cinco anos indo à Donnell pelo menos três vezes por semana. Infelizmente, a biblioteca fechou em 2008, quando o prédio foi vendido para um hotel.

Talvez uma boa saída para morar em um lugar legal sem gastar os tubos seja procurar uma cidade menor e menos falada. Tenho amigos que moram em Portland, Seattle e Austin, e adoram (se bem que os aluguéis em Austin estão subindo absurdamente).

Mas cada cidade tem seus prós e contras. Experimente achar um restaurante aberto às 10 da noite em Portland. Impossível. Um conhecido mudou de Los Angeles para Seattle e durou quatro meses na cidade. Ele contou que choveu por quase cem dias seguidos e lhe bateu uma depressão desesperadora.

De qualquer forma, acho que a experiência de morar no exterior é não só válida, mas necessária. E não só nos EUA, claro: eu moraria tranquilamente em Buenos Aires ou Madri (adoro Berlim, mas o inverno é de lascar, e fiquei alucinado com Budapeste, mas enfrentar os meses de gelo também não deve ser mole). Quero muito conhecer a Austrália, que parece, por relatos, uma mistura ideal de natureza linda e organização. A ver.

Bom fim de semana a todos.

P.S.: Estarei fora até o fim da tarde e impossibilitado de moderar comentários. Se o seu comentário demorar a ser publicado e respondido, peço desculpas e um pouco de paciência. Obrigado.

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