A versão brasileira da revista “Rolling Stone” de dezembro traz uma entrevista com Charles Manson, o líder do culto que matou sete pessoas em 1969, incluindo a atriz Sharon Tate, casada com o cineasta Roman Polanski.
A reportagem mostra como ainda é grande o interesse por Manson e como ele continua a atrair seguidores, que parecem enxergar algo de divino naquele sujeitinho fraco e magricela.
De “homem mais odiado do mundo” em 69, Charlie passou a ser visto como um guru, um mártir da luta contra o sistema. Não é raro passar por moleques na rua – especialmente na Califórnia – usando camisetas do sujeito, ou ler sobre roqueiros e artistas que o visitam na cadeia. Virou cool gostar de Charlie.
Há alguns meses, saiu nos Estados Unidos um livro ótimo, "Manson: The Life and Times of Charles Manson", de Jeff Guinn. É o relato menos sensacionalista que já li sobre a vida de Manson.
Guinn passou anos entrevistando parentes e amigos e chegou à conclusão de que Charles Manson sempre foi um bandidinho covarde, que desde os seis anos cometia delitos e culpava outros, ou cooptava amigos para participar de crimes e depois fingia não saber de nada.
O que diferenciava Charlie de outros delinquentes era o carisma, que ele usava para arregimentar seguidores para seu culto. Charlie deu sorte: chegou à Califórnia em 1967, no meio da explosão do “Verão do Amor”, quando qualquer cabeludo com um papinho mole sobre liberdade e luta contra o governo encontrava um público louco de ácido e pronto para ouvi-lo.
Charlie montou um séquito de escravas sexuais, que chamava de “A Família”. Promovia orgias diárias em que convidava amigos e jet setters hollywoodianos para usar e abusar das moças. Tudo regado a LSD, que ele só tomava de vez em quando, para poder controlar as discípulas com mais facilidade.
Dois dos maiores freqüentadores dessas festanças eram Dennis Wilson, dos Beach Boys, e Terry Melcher, famoso produtor de discos e membro da elite de Hollywood (era filho da atriz Doris Day). Charlie paparicava a dupla para tentar conseguir entrada em alguma gravadora, já que tinha planos de virar um popstar. Até Neil Young se encantou com Charlie por uns tempos e chegou a recomendá-lo para sua gravadora.
Dennis Wilson convenceu os Beach Boys a gravar uma música de Charlie. Melcher logo viu a furada em que tinha se metido e pulou fora, mas virou alvo da fúria do guru. A vingança de Charlie não demorou: o massacre que matou Sharon Tate e vários amigos aconteceu numa casa que pertencia a Melcher. Há quem diga que ele era o alvo dos ataques.
Nunca entendi direito o fascínio causado por Manson. De todos esses fanáticos e líderes de cultos assassinos, como Jim Jones e David Koresh, Manson é o menos interessante. Sua “filosofia” – uma bizarra mistura de paranoia, eugenia e machismo, em que homens brancos governavam o universo, mulheres só existiam para satisfazê-los e negros deveriam ser eliminados – parece ter sido inventada à medida que ele falava, como o personagem de Philip Seymour Hoffman em “O Mestre”.
Charlie era maquiavélico. Não participou dos crimes, mas mandou sua gangue praticá-los e depois tentou se livrar da cadeia dizendo que não tinha nada a ver com eles. Acabou condenado à morte. A pena foi mudada para prisão perpétua depois que a Califórnia aboliu as execuções, nos anos 70.
Você termina de ler o livro de Guinn sem entender por que tanta gente acreditou em Manson. Nem ele mesmo parece crer naquelas besteiras. A única explicação – e alguns dos próprios membros da “Família” dizem isso – é que estavam todos tão chapados de ácido que viraram presas fáceis.
Não que alguém possa achar virtudes nas palavras de Jim Jones ou David Koresh, mas suas histórias de vida e idéias, por mais insanas, são bem mais interessantes que as de Manson. Sugiro ler “Raven”, de Tim Reiterman, biografia de Jim Jones. A história é tão incrível, e a trajetória de Jones tão louca - um comunista, liberal e defensor de minorias que virou guru e convenceu 900 pessoas a se matar – que dá para entender por que tanta gente o seguiu. E não dá pra esquecer que Jones morou em Belo Horizonte e Rio por quatro anos, e chegou a cogitar fazer seu templo no Brasil.
P.S.: Estarei fora por boa parte do dia e impossibilitado de responder comentários até o início da noite. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.
Veja mais:
+ R7 BANDA LARGA: provedor grátis!
+ Curta o R7 no Facebook
+ Siga o R7 no Twitter
+ Veja os destaques do dia
+ Todos os blogs do R7
The post Quem gosta de Charles Manson, bom sujeito não é appeared first on Andre Barcinski.