R. é amigo nosso e mora em frente à praia, a cerca de 5 km de Paraty. Sua casa tem um terreno grande e arborizado, cheio de coqueiros, palmeiras e uma amendoeira gigante. Um riacho corre no meio da propriedade e desemboca no mar. Não é incomum ver pássaros e cotias bebendo água ali.
Domingo, um amigo de R. chegou de barco à praia e o chamou. R. saiu de casa, desceu os degraus da escada de pedra que levam à areia e deu de cara com esta cena:
Era uma jaguatirica. Tinha cerca de 90 centímetros de comprimento e estava bastante machucada, com lacerações no pescoço.
R. lembrou ter ouvido seus cachorros – ele tem três, um casal de vira-latas e um pastor alemão – fazendo barulho no meio da madrugada. Ficou arrasado: se tivesse ido ao jardim conferir a causa de tanto barulho, poderia ter descoberto a jaguatirica ainda viva e, quem sabe, chamado a Defesa Civil para capturá-la e devolvê-la ao seu habitat natural.
Por todo o dia, vizinhos e amigos passaram na casa para ver o animal. De perto, a jaguatirica é ainda mais bonita e vistosa que em fotos, com um pelo brilhante e macio. É um animal magnífico.
As pessoas conjecturavam sobre a morte da jaguatirica. Ela havia claramente levado mordidas no pescoço. Mas será que três cachorros, sendo dois pequenos vira-latas, poderiam ter feito isso?
Para adicionar ainda mais mistério ao caso, o pastor alemão estava sumido. A casa de R. faz divisa com um matagal, de onde é possível sair para a estrada Rio-Santos. E o pastor não era visto desde o dia anterior.
Alguns diziam que a jaguatirica e o pastor podem ter brigado e um matado o outro. Mas onde estaria o corpo do pastor alemão? Caído em algum matão escondido?
De toda forma, uma coisa é certa: ninguém, nem os vizinhos mais antigos, haviam visto uma jaguatirica tão perto da praia. Não é incomum ver jaguatiricas e onças nas áreas rurais próximas à Paraty, mas com a exploração cada vez maior dessas regiões, os animais certamente começam a procurar outras paragens.
Vizinhos estavam preocupados. Há várias crianças morando ali. Dei uma pesquisada na Internet e li que jaguatiricas são animais normalmente inofensivos, que só atacam quando se sentem atacados. O negócio é ficar atento.
Enquanto isso, a busca pelo pastor alemão continua.
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