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Não contente em ver seus colegas levarem quatro Oscar – incluindo melhor filme, roteiro e diretor – pelo medíocre “Birdman”, o protagonista do filme, Michael Keaton, não engoliu a derrota para Eddie Redmayne, que venceu o prêmio de melhor ator por “A Teoria de Tudo”, a insuportável cinebiografia do físico Stephen Hawking.
Ao ser perguntado, diante de 6500 pessoas numa conferência de tecnologia nos Estados Unidos, se merecia o Oscar, Keaton nem pestanejou: “Sim. Acho que as pessoas não entenderam o grau de dificuldade necessário para fazer o que fizemos”. E concluiu: “Infelizmente, a doença sempre vence”. Ele se referia ao fato de Redmayne interpretar um personagem que sofre de uma terrível doença degenerativa.
Keaton disse ainda que pressentiu que não ia ganhar no dia em que saiu a lista de indicados: “Conversei com um cara que é da Academia há 40 anos e, quando o filme terminou, ele me disse: 'Parabéns por sua atuação, é uma das melhores que já vi'. Eu estava me sentindo muito bem comigo mesmo, quando ele completou: 'Infelizmente, você não vai ganhar o Oscar; doenças sempre levam’. Foi aí que percebi que eu estava fodido, completamente fodido".
O ator contou uma conversa que teve com o colega Robert Downey Jr., em que este argumentou que aquilo não era uma competição. “Lembro ter pensado: foda-se, é claro que é uma competição! Acho que uma maneira melhor de decidir isso do que deixar membros da Academia votarem seria uma luta, uma corrida, basquete, ou qualquer coisa que eu possa controlar – e até trapacear para vencer!”
Espero que Keaton esteja sendo irônico, mas não duvido que ele fale a sério. É difícil acreditar que ele achava que não ia ganhar, especialmente depois de ver este vídeo, filmado segundos depois do anúncio do prêmio para Redmayne, em que Keaton aparece guardando no bolso do terno seu discurso de agradecimento. Deprimente.
O desabafo de Michael Keaton explicita algumas coisas: em primeiro lugar, que seu ego, assim como o da maioria dos astros hollywoodianos, é do tamanho de uma galáxia. Em segundo lugar, que atores, com raras exceções, são extremamente inseguros e precisam de carinho e prêmios.
Por outro lado, Keaton foi corajoso ao destruir o mito bonitinho de que a classe dos atores não vê o Oscar como “competição” e ao falar com franqueza sobre a opção politicamente correta de sempre premiar personagens doente.
Nisso ele tem razão: a Academia adora um azarão. Um ator que interpreta um personagem doente ou com algum tipo de problema motor ou mental tem maiores chances de ser premiado. Alguns exemplos recentes são Matthew McConaughey (“Clube de Compras de Dallas”) e Julianne Moore (“Para Sempre Alice”). O mesmo vale para personagens cegos (Jamie Foxx em “Ray”), transexuais (Jared Leto em “Clube de Compras de Dallas”) ou escravizados (Lupita Nyong’o em “12 Anos de Escravidão”).
Acho importante um ator conhecido como Michael Keaton questionar isso. É uma pena que suas declarações tenham soado mais como ressentimento do que análise. Teria sido mais digno se ele parabenizasse Redmayne pela atuação e depois discorresse sobre a obsessão da Academia por azarões e o viés politicamente correto das premiações.
Vale lembrar que Keaton conhece muito bem personagens doentes. Quem pode esquecer o dramalhão “Minha Vida” (1993), em que ele interpretava um homem com câncer terminal que decide filmar a própria vida para mostrar ao filho que estava por nascer? Era um filme bem ao gosto da Academia, com mensagens edificantes e uma bela “lição” espiritual no fim, mas o único prêmio a que Keaton poderia concorrer foi o Framboesa de Ouro. E nem a esse foi indicado. Vacilou, Batman.
Bom fim de semana a todos.
P.S.: Parabéns a José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que hoje, sexta-feira 13, completa 79 primaveras.
P.S. 2: Estarei fora até o início da tarde. Se o seu comentário demorar a ser publicado, peço desculpas e um pouco de paciência.
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