Quantcast
Channel: Andre Barcinski
Viewing all articles
Browse latest Browse all 575

O BARULHO FOI ALTO – SERÁ QUE DILMA OUVIU?

$
0
0

79815681 protesto sao paulo O BARULHO FOI ALTO   SERÁ QUE DILMA OUVIU?

 

Mente quem diz que não se surpreendeu pela quantidade de gente nas ruas hoje, nos protestos contra o governo.

Nem os organizadores esperavam tanta gente. Segundo a PM, o total de participantes chegou a 1,4 milhão em todo o país. O Datafolha diz que 210 mil participaram da manifestação em São Paulo.

É claro que os defensores do governo tentarão diminuir a importância das manifestações, dizendo que é uma tentativa de fazer um "terceiro turno" ou de pedir intervenção militar, quando ficou claro, pelas imagens, que esses nostálgicos da ditadura eram uma pequena minoria e que a grande maioria estava protestando contra a corrupção e incompetência do governo.

Na tarde de domingo, um ministro do PT, que pediu para não ser identificado, disse à "Folha" que não havia "povão" na Avenida Paulista, e sim a "classe média que votou no tucano Aécio Neves (PSDB-MG)".

Não é hora de declarações divisivas - e estúpidas - assim. Pra começo de conversa, o governo deveria reconhecer que foi surpreendido pelo tamanho das manifestações e admitir que está numa crise profunda. Pesquisas recentes mostram que a popularidade da presidente nunca esteve tão baixa, então a desculpa de que os protestos "só reuniram quem não votou no PT" não é lá muito inteligente, porque ignora o quadro geral de descrédito do governo.

E essa crise, diferentemente do que muita gente do governo está dizendo, não é culpa exclusiva das investigações da Operação Lava-Jato.

É só ver a situação de várias universidades estaduais e federais. A UFRJ e a UERJ, por exemplo, estão sem aulas por falta de pagamento para as equipes de limpeza e manutenção.

O MEC diz que não repassou a verba para as universidades porque o orçamento de 2015 ainda não foi aprovado. Os prédios estão cheios de lixo e sujeira. Cerca de 45 mil alunos estão sem aula.

A Universidade de Brasília recebeu, até agora, apenas um terço da verba que estava programada pelo governo federal.

Nos dois primeiros meses do ano, o governo deixou de repassar 1,7 bilhão de reais para o Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Algumas faculdades não recebem recursos do Fies desde outubro do ano passado.

No Mato Grosso, 774 obras públicas estão paralisadas.

No Rio Grande do Sul, pelo menos 127 mil novas vagas para qualificação profissional e ensino técnico estão congeladas enquanto o MEC decide que cursos serão realizados este ano pelo Pronatec. O início das inscrições, que geralmente ocorre em março, foi adiado para maio, e as aulas devem começar só em julho. Ninguém sabe quantos alunos serão atendidos, o que tem levado instituições a reprogramar grades de cursos e dispensar professores.

Outros escândalos são resultado direto do Petrolão e da crise na Petrobras:

Em Itaboraí, cidade a 50 km do Rio, a paralisação das obras na refinaria Comperj, da Petrobras, custou mais de 30 mil empregos. De 35500 pessoas que trabalhavam no local no fim de 2013, hoje restam 4500.  Há filas de desempregados em obras e escritórios de empreiteiras.

O mesmo ocorre em Ipojuca, em Pernambuco, onde dezenas de milhares de operários foram demitidos do Porto de Suape, e no Pólo Naval de Rio Grande, no Rio Grande do Sul.

Um amigo, funcionário da prefeitura de Paraty, contou que várias obras da cidade estão paradas devido ao atraso em repasses de verbas do Estado. “As cidades que ganham royalties do petróleo estão f...didas”, resumiu.

Como se a situação não fosse explosiva o suficiente, políticos conseguem botar gasolina na fogueira. Assistir aos "melhores momentos" dos depoimentos do Presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), e do ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, na CPI da Petrobras, foi um martírio. Os aliados de Cunha transformaram o depoimento num jogo de compadres, em que ele saiu como uma pobre Joana D'Arc e bateu sem parar no Procurador-Geral, Rodrigo Janott. E Gabrielli deu soco na mesa e fez biquinho de raiva ao gritar que a corrupção na empresa "não era sistêmica". Imagina se fosse.

No dia seguinte, foi a vez do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), dar uma declaração que, em qualquer país mais politizado, causaria protestos na rua e sua consequente demissão. Em ameaça aos garis cariocas, que estão em greve, o prefeito disse: "Se eu montar uma barraquinha no Comperj, consigo 18 mil garis."

Com uma frase, o prefeito conseguiu humilhar duas classes - a dos garis e a dos trabalhadores do Comperj. E a frase é ainda mais asquerosa quando lembramos que o partido do prefeito é um dos principais envolvidos no Petrolão e diretamente responsável pela paralisação do Comperj.

Imagino um operário que trouxe a família a Itaboraí, vindo de outra parte do país, atraído pela promessa de um emprego bom e duradouro, ouvindo a declaração do prefeito enquanto pena na fila do seguro-desemprego.

Para encerrar a semana, o governo anunciou que, na próxima terça, o Congresso receberá uma emenda ao orçamento de 2015 que prevê um aumento de 45% na verba do Fundo Partidário, que irá de 289 milhões por ano para 570 milhões. A razão? Com o Petrolão e as prisões de donos de empreiteiras, as doações diminuíram, e os partidos precisam desse aumento para equilibrar as contas.

Ou seja: num momento em que o governo tenta fazer um ajuste fiscal, aumenta impostos, aumenta a tarifa de luz e revê para baixo os prognósticos para a economia, os partidos vão dobrar o dindim que recebem. Escárnio é pouco.

P.S.: Devido às manifestações, adiantei o texto de segunda para domingo à noite. O blog volta terça com um texto inédito. Até lá.

The post O BARULHO FOI ALTO – SERÁ QUE DILMA OUVIU? appeared first on Andre Barcinski.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 575