O canal BIS exibiu, há algumas semanas, um documentário excelente da BBC chamado “Blondie’s New York – The Making of Parallel Lines”, sobre as gravações de “Parallel Lines”, terceiro disco do grupo new wave Blondie, lançado em 1978. O doc está disponível no Youtube, sem legendas:
O filme traz entrevistas com todos os integrantes do Blondie que participaram do LP – Debbie Harry (vocais), Chris Stein (guitarra), Jimmy Destri (teclados), Clem Burke (bateria), Frank Infante (guitarra) e Nigel Harrison (baixo) – além do produtor Mike Chapman.
Muita gente considera “Parallel Lines” o marco zero da new wave, um gênero que nasceu do punk, mas era mais festivo e menos politizado. O Blondie veio da cena underground nova-iorquina de meados dos anos 70. Aquela cena era chamada de “punk”, mas a verdade é que as bandas eram tão diversificadas musical e esteticamente - Ramones, Talking Heads, Blondie, Television - que a principal coisa em comum era o local onde tocavam, o CBGB’s, uma pocilga no Bowery.
O pessoal do Blondie adorava o barulho dos Ramones e as experimentações do Talking Heads, mas gostava mesmo do pop americano dos anos 60, especialmente de Phil Spector e suas girl groups, como as Ronettes.
Desde o início, Chris Stein e Debbie Harry, o casal que liderava o Blondie, tentava fazer um pop adulto que fosse atrativo para as rádios e, ao mesmo tempo, não se limitasse aos temas corriqueiros e ingênuos da música de FM. Tanto que a primeira canção gravada pela banda, “X-Offender”, de 1976, falava de uma prostituta presa em uma emboscada da polícia.
Os dois primeiros discos do grupo – “Blondie” (1976) e “Plastic Letters” (1978) – fizeram relativo sucesso, mas a gravadora Chrysalis queria mais. O selo convenceu o Blondie a usar, no terceiro disco, o produtor australiano Mike Chapman, uma verdadeira máquina de hits que havia produzido discos de Sweet, Mud e Suzi Quatro, entre muitos outros.
Com Chapman a bordo, a equação de forças na banda mudou. Chris Stein e Debbie Harry continuavam os líderes, mas tiveram de obedecer aos comandos do produtor, que sonhava em transformar aquela talentosa banda, até então mais conhecida na cena alternativa americana, em sucesso mundial.
O documentário mostra como Chapman tornou, passo a passo, o som do Blondie mais palatável ao mainstream. Ele gravou timbres de guitarras menos agressivos, dobrou a voz de Debbie Harry inúmeras vezes para extrair doçura e delicadeza, e usou os teclados de Jimmy Destri para polir ainda mais o som.
A banda, habituada a uma produção minimalista, que praticamente reproduzia o som de seus shows, a princípio não gostou, mas quando começou a ouvir o resultado das primeiras gravações, mudou de ideia.
O grande trunfo de Chapman foi ter percebido o potencial de uma velha - e inédita - canção do grupo, chamada “Heart of Glass”. A música havia sido composta em 1974 por Debbie e Chris e chegou a ser gravada numa versão demo, em 1975, com o título “Once I Had a Love”. Mas a banda não ligou muito para a música e a chamava de “A Canção de Discoteca”. Debbie disse que a banda nunca conseguiu decidir se era uma balada ou um reggae, e acabaram deixando-a de lado.
Quando Chapman ouviu a canção, decidiu transformá-la numa acelerada discoteca, aproveitando a onda disco que tomava o mundo de assalto com “Os Embalos de Sábado à Noite”. No filme, o produtor conta como construiu, junto com o baterista Clem Burke e o tecladista Jimmy Destri, a base rítmica da música, claramente inspirada nos sons futuristas do italiano Giorgio Moroder.
O resultado? Vinte milhões de discos vendidos e uma das canções eternas do pop. Que, é bom lembrar, era a quarta música do lado B de “Parallel Lines”.
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