Jorge Loredo morreu quinta-feira, aos 89 anos, no Rio de Janeiro. O ator encarnou um dos personagens antológicos do humor brasileiro: Zé Bonitinho, o perigote das mulheres, um galã de topete de Gumex, bigodinho fino e que seduzia as gatas com um tostão de sua voz aveludada, enquanto orientava a câmera a flagrar, de perto, toda sua belezura: “Camera close, attention, pleeeeease!”.
Mas Zé Bonitinho não foi o único grande personagem da carreira de Loredo. Como esquecer o mendigo My Lord, que falava com sotaque britânico, usava um monóculo e andava com roupas em farrapos, enquanto descrevia suas aventuras pelo mundo dos ricos e famosos? Vejam só que maravilha:
E não aguento esse: “Fala inglês? Ótimo, então seu emprego será pedir esmolas na Praça Mauá!”
Pra mim, Zé Bonitinho é o humor brasileiro por excelência: escrachado, esculachado e sem vergonha de nosso terceiro-mundismo. Há uma linha direta entre Zé Bonitinho e Grande Otelo e Oscarito satirizando clássicos do cinema americano; entre My Lord contando seus encontros com a Rainha da Inglaterra e Costinha enfrentando o “King Mong”.
Nosso humor sempre foi feio, sujo e malvado, especialmente o humor televisivo e do cinema (há exceções no humor impresso, como o Barão de Itararé e Millôr). Não há um Frank Capra, um Billy Wilder ou um Woody Allen no cinema brasileiro. Comédia sofisticada nunca foi nosso forte. Nossas maiores criações cômicas – o cearense esperto de Renato Aragão, o negão malandro de Mussum, Azambuja, o craque do Bonsucesso, de Chico Anysio, a Velha Surda de Rony Rios, o Bronco de Ronald Golias – são personagens tragicômicos, que usam o humor como remédio para suas vidas tristes.
Meu ator cômico favorito é o italiano Totò (1898-1967). Seu personagem era o arquétipo do napolitano pobre, malandro e ressentido com a pujança econômica e a “chiqueza” de seus conterrâneos do norte da Itália. O Didi Mocó de Renato Aragão é uma espécie de Totò nordestino, e também vejo muita influência do cômico italiano no Zé Bonitinho de Jorge Loredo.
Em 2009, tive a sorte de conseguir juntar, numa mesma entrevista, dois personagens clássicos da cultura pop brasileira: Zé Bonitinho e Zé do Caixão. Foi no programa de entrevistas de Mojica. No fim, os dois trocaram de personagem: Jorge Loredo botou capa e cartola de Zé do Caixão, e Mojica “virou” Zé Bonitinho.
Aqui vai uma foto do encontro:
E aqui, a íntegra da entrevista. Sugiro assistir até o fim e testemunhar a troca de personagens.
Vale lembrar que o Canal Brasil vai homenagear Jorge Loredo na quinta, dia 2, a partir de 0h35, com a exibição de dois filmes estrelados por ele: o curta “Quando o Tempo Cair” (2006), dirigido por Selton Mello, seguido do longa “Sem Essa, Aranha” (1970), de Rogério Sganzerla.
Fique em paz, Zé Bonitinho. Camera close. Fade out. Corta.
P.S.: Devido à morte de Jorge Loredo, adiantei o texto de sexta. O blog volta com um texto inédito na segunda. Bom fim de semana a todos.
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