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VOCÊ COMPRARIA UMA BICICLETA USADA DO JAY-Z?

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Sugiro que você gaste 18 minutos de sua vida e assista ao vídeo abaixo. É a íntegra da coletiva de imprensa do Tidal, o novo serviço de streaming de música de Jay-Z.

No palco, só VIPs: além dos donos da bagaça, Jay-Z e a esposa, Beyoncé, foram bater continência Madonna, Daft Punk, Jack White, Rihanna, Kanye West, Chris Martin, Nicki Minaj, Calvin Harris, Usher e outros.

Alicia Keys fez um discurso apoteótico, em que falou do Tidal como “o futuro da música” e afirmou, categoricamente, que “uma nova era” estava começando. Para dar certa gravidade à situação, a moça citou Nietzsche: “Sem a música, a vida seria um erro”.

Bem que Alicinha poderia ter citado outra frase de Nietzsche, bem mais adequada à ocasião: “O indivíduo sempre lutou para não ser subjugado pela tribo. Se você tentar, ficará muitas vezes sozinho e, às vezes, assustado. Mas nenhum preço é alto demais para o privilégio de ser dono de você mesmo.”

Resumindo: você quer mesmo ser subjugado pela tribo de Jay-Z? Ou melhor: o que Jay-Z fez na vida, além de ter ficado podre de rico, para ser o Flautista de Hamelin de uma nova “revolução musical”?

Essa coletiva de imprensa do Tidal foi um espetáculo grotesco de arrogância e autoindulgência. Bem disse Sam Biddle, do Gawker: “Imagine isso: cancelar sua assinatura do Spotify e pagar 20 dólares por uma assinatura do Tidal. É mais caro porque é de ‘qualidade maior’ e ‘controlado pelos artistas’, o que é importante porque Usher, Daft Punk e Madonna têm vivido em penúria miserável por muito tempo, e é hora de as pessoas retribuírem”.

Sabe o que é pior? As pessoas vão retribuir. Nesse exato segundo, milhares de consumidores estão fazendo fila para adquirir seu Tidal e deixar Jay-Z e amigos ainda mais ricos.

Pergunto: onde estava a turma de Jay-Z nos últimos 30 anos, quando duas ou três empresas – Live Nation, Clear Channel, AEG – compraram clubes, arenas, teatros e estações de rádios, praticamente acabando com os clubes independentes na Europa e EUA e monopolizando o mercado de shows em todo o mundo? Onde estava a patota quando o percentual do faturamento em shows de 1% dos músicos mais ricos dos EUA, do qual todos eles fazem parte, chegou a estarrecedores 56% do total do mercado de shows no país? Resposta: estavam contando dinheiro.

Para este blog, é muito bom que o anúncio do Tidal venha na esteira do Lollapalooza Brasil, porque permite continuar a discussão sobre as armações da indústria musical.

Fiquei surpreso com a quantidade de comentários que se referiam ao Lolla como “festival alternativo”. Um leitor chegou a dizer que o evento tinha “espírito jovem”.

Sinto desapontar a molecada, mas a história é bem outra. O ídolo loucão de vocês, o tio Perry Farrell, hoje é um boneco de Olinda do Lollapalooza, colocado na frente da festa só pra decorar. Perry não manda em nada há muitos anos. Ele mesmo confirmou isso à “Billboard”: “Não estou mais interessado na escalação do festival porque sei que está em boas mãos.”

E sabe nas mãos de quem está a escalação do Lollapalooza? Da Live Nation, a megaempresa de entretenimento que comprou o festival. E quem é a Live Nation? Há alguns meses, escrevi aqui no blog sobre a empresa e seu chefão, um sujeito chamado Arthur Fogel.

Sabe quem a Live Nation agencia? Jay-Z e Madonna, entre centenas de outros megaüberhiperastros. Não é lindo o mundo da música?

E sabe por que o Lollapalooza, em anos recentes, tem sempre escalado um superastro do EDM, como Skrillex? Rufem os tambores… Porque a Live Nation também é dona de várias marcas gigantes de festivais e clubes de música eletrônica, como Cream, Insomniac e Hard, ora.

Resumindo: fãs de Skrillex, Foster the People e megafestivais: deixem de ingenuidade. Esses eventos nunca foram alternativos a nada. Ou melhor: são alternativos ao alternativo, porque atraem um público que diz não gostar do “mainstream”, mas que, sem saber, só enriquece o patrão do Jay-Z. Não ir a essas porcarias não é sinal de comodismo, muito pelo contrário: é pra quem se recusa a ser enganado.

Se você gosta e se importa com música alternativa, pare de ir a esses Lollapaloozas e Rock in Rios e comece a frequentar os poucos clubes que ainda apresentam música ao vivo, vá a festivais pequenos e independentes e busque conhecer novos sons.

E quando o Jay-Z aparecer se dizendo o salvador da música, mande esse recado pro rapaz:

Beijos e abraços.

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