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Assassinaram o camarão

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Abre hoje a temporada de pesca de camarão.

De 1º de março a 31 de maio, a pesca esteve proibida por conta do defeso, período em que os camarões estão procriando. O defeso é regulamentado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e visa “evitar a extinção da espécie”. Justo.

Os pescadores consideram muito curto o período estabelecido para o defeso. Aliás, o IBAMA concorda. Em entrevista ao jornal “O Globo”, a chefe do escritório do instituto em Campos, Rosa Maria Castelo Branco, disse: “O último estudo garante que o período de crescimento e desova do camarão deveria ser de seis meses. Porém, o Ministério da Pesca e o IBAMA entenderam que seria um tempo muito longo para o pescador ficar longe do mar”.

Na verdade, há um problema mais sério e que explica o tempo curto do Defeso: pela lei, o governo tem de pagar a cada pescador um salário mínimo por mês de defeso para compensar os meses não trabalhados (leia aqui as regras no site do Ministério do Trabalho). E o governo não quer pagar mais nada a ninguém.

O resultado é um crime ambiental que se repete a todo ano: nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, quando os camarões estão desovando, os barcos de pesca continuam livres para capturá-los. Boa parte do camarão pescado não tem tamanho suficiente para ser vendido e é jogado fora.

O dono de uma peixaria de Paraty, da qual somos clientes, disse que, nessa época, é comum barcos jogarem fora cerca de 70% dos camarões pescados. Este ano, o camarão estava tão pequeno que ele se recusou a comprar dos pescadores.

O período curto do defeso acaba prejudicando a pesca durante o ano todo. Se os camarões são capturados muito pequenos, a quantidade de camarões grandes diminui nos meses seguintes. O resultado é a inflação no preço do pescado.

O período do defeso até poderia ser curto, se as cidades litorâneas tivessem um bom sistema de fiscalização da pesca. Mas é mais fácil esbarrar com o Monstro de Loch Ness na Baía de Paraty do que ver algum barco fiscalizando a pesca.

E a população não ajuda: duas semanas antes do fim do defeso, era possível ver alegres banhistas pescando camarão nas praias da cidade, usando redes chamadas de “picarés”. Claro que boa parte do camarão pescado não passava de dois centímetros de comprimento.

Para encerrar, uma canção de protesto contra essa verdadeira tragédia do fundo do mar:

Mussum sabia das coisas. O IBAMIS precisa agir.

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