Atenção: o texto contém spoilers.
A primeira temporada de “True Detective” foi sensacional: oito horas de um policial noir-gótico-sobrenatural à David Lynch, passado nos sombrios pântanos da Louisiana e com dois personagens inesquecíveis, os detetives interpretados por Matthew McConaughey e Woody Harrelson.
A segunda temporada tem história, cenário, elenco e diretores completamente diferentes da primeira, e estreou domingo na HBO. A primeira impressão, pelo menos para mim, não foi das melhores.
O primeiro episódio de qualquer série – prefiro classificar “TD” de “filme longo”, já que cada trama nasce e morre em oito episódios – é o mais difícil. Em uma hora, o roteiro precisa apresentar todos os personagens principais e dar o pontapé inicial na trama.
A julgar pelo primeiro episódio da segunda temporada, ela tem o dobro de personagens principais da primeira. São quatro: Ray Velcoro (Colin Farrell), um policial corrupto que está no bolso do mafioso Frank Semyon (Vince Vaughn), e dois policiais, Ani Bezzerides (Rachel McAdams) e Paul Woodrugh (Taylor Kitsch).
O tema central é a investigação do assassinato de um político, metido num projeto bilionário de Semyon que envolve uma estrada que corta toda a Califórnia.
O primeiro episódio se dedicou a contar o background desses quatro personagens, e não consegui acreditar em nenhum. Velcoro é atormentado por uma tragédia familiar: seu filho é, possivelmente, resultado de um estupro sofrido pela ex-esposa; Semyon é um ex-capanga da máfia que sonha em tornar-se um honesto homem de negócios, e Woodrugh é um ex-militar com alguma história cabulosa – e, por enquanto, secreta - de combate. Já vimos esse filme antes, não?
Mas a personagem que mais me incomodou foi a de Rachel McAdams. A moça é um poço de ressentimento contra os homens, e a explicação surge de maneira atabalhoada e simplista quando ela encontra a irmã, uma viciada em drogas, trabalhando num esquema de transmissão de filmes pornô pela Internet, e o pai, um guru new age (David Morse) que dá cursos de autoconhecimento numa clínica e que ela culpa pelo suicídio da mãe.
O roteiro abusou de “coincidências” e cenas inverossímeis – o policial Woodrugh acha o corpo do político no meio da estrada; a policial Bezzerides encontra a irmã e o pai no mesmo dia durante a investigação de dois crimes distintos; o policial Velcoro, num aparente surto de demência, espanca o pai de um menino que humilhou seu filho, etc.
Espero que o roteirista e criador da série, Nic Pizzolatto, consiga tornar os personagens e suas histórias mais credíveis nos próximos episódios. Uma série que abre com uma música de Leonard Cohen (“Nevermind”) e fecha com um cover de Nick Cave e Warren Ellis para “All the Gold in California”, de Larry Gaitlin & the Gaitlin Broithers, merece uma grande história.
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