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Feliz aniversário, Bebê-Diabo!

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bebediabo3 Feliz aniversário, Bebê Diabo!Se você esbarrar na rua com um sujeito peludo, ostentando um par de chifres e um rabo pontiagudo, pode parebenizá-lo: o Bebê-Diabo acaba de fazer 40 anos.

A estranha criatura nasceu num domingo, 11 de maio de 1975, na primeira página do jornal “Notícias Populares”.

O dia anterior fora um sabadão tranquilo, daqueles em que até os criminosos pareciam ter tirado folga. Não havia um crime sequer para apimentar o noticiário.

Sem assunto palpitante para manchetar, o então secretário de redação, José Luiz Proença, que comandava o jornal no dia de folga do editor, Ebrahim Ramadan, decidiu dar uma boa chamada para um caso curioso: num hospital do ABC, nascera uma criança com duas saliências na cabeça. O “NP” publicou: “Nasceu o Diabo em São Paulo”.

A reportagem parecia o roteiro de “O Exorcista”: depois de descrever o petiz como “uma criatura com o corpo totalmente cheio de pelos, dois chifres pontiagudos na cabeça e um rabo de aproximadamente cinco centímetros, além do olhar feroz, que causa medo e arrepios”, o texto relatava o dia em que o tinhosinho, furibundo com uma enfermeira que teria deixado entrar a luz do sol no berçário, ameaçara o staff: “Fechem as janelas ou mato a todos!”.

No domingo, poucas horas depois de o jornal chegar às bancas, Proença recebeu um telefonema do departamento de circulação: a edição estava esgotada. O Bebê-Diabo tinha se espalhado como uma praga pela cidade.

Foi o suficiente para o “NP” continuar a história na segunda-feira (“Bebê-Diabo Desaparece”), terça (“Feiticeiro Irá ao ABC Expulsar o Bebê-Diabo”) e quarta (“Bebê-Diabo do ABC pesa 5 Quilos”). A circulação subiu tanto que o “NP” deu 27 manchetes para o filho do capeta.

 Feliz aniversário, Bebê Diabo!

A saga incluiu um taxista que dizia ter levado o Bebê-Diabo para um rolê no centro da cidade, moradores de um bairro do ABC que descreveram o diabinho pulando pelos telhados das casas, e até o suposto “pai” da criaturinha, um fazendeiro que, dizia a reportagem, “tem dois chifres e não tira o chapéu”.

Zé do Caixão, que dois anos antes ajudara o “NP” a expulsar o Vampiro de Osasco, um monstro que aterrorizara os moradores de Osasco ao chupar o sangue de vários cachorros, foi convocado para caçar o Bebê-Diabo na Bahia, onde o monstrinho fora visto, e mandou dois assistentes, Satã e Marcelo Motta, atrás do maldito (curiosamente, Satã foi visto andando com Zé do Caixão pelas ruas do Ipiranga quando deveria estar em terras baianas caçando o capetinha).

Assim como nasceu, o Bebê-Diabo morreu, sem choro nem vela. A explicação, na redação do “NP”, foi a falta de interesse do público, que cansara de acompanhar a trama. Mas não importava: a criaturinha já tinha cumprido sua missão na Terra, que era a de fincar seus caninos na história do imaginário popular e das lendas urbanas brasileiras, assim como o Chupacabras, o Homem-Mãe, e a mais famosa aberração de todas, a Loira-Fantasma, uma lenda do século 19 que fora ressuscitada no fim dos anos 1950 pelo jornalista Orlando Criscuolo, do "Diário da Noite".

O “NP” ainda tentaria faturar em cima de outros petizes amaldiçoados, como o “Bebê-Peixe” e o “Bebê Atômico”, mas nenhum deles chegou ao rabo pontiagudo do Bebê-Diabo. Vida longa ao senhorzinho das trevas.

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