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Os punks e o Cristo Redentor

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Buzzcocks Os punks e o Cristo RedentorTodo mundo que já organizou turnês de bandas sofreu na mão de um tour manager. Para quem não sabe, tour manager é uma espécie de babá das bandas. Ele é responsável por tudo: check-in em hotéis, deslocamento da equipe em vans, manutenção de horários de passagens de som, etc. E existe, no mundo da produção de shows, uma regra inquebrantável: quanto mais legais os caras das bandas, mais chato será o tour manager.

Na verdade, artistas não são legais, eles só fingem que são legais e põem um mala qualquer pra tratar com os contratantes. O tour manager é o bode expiatório que leva a culpa por qualquer maletice. Uma das frases mais corriqueiras por aqui é: “Os caras da banda são gente fina, mas o tour manager é um mala do cacete!”.

Trabalhei com produção de shows por quase dez anos e passei maus bocados com esses sujeitos.

O tour manager do Cardigans foi um dos piores. O sujeito morava na Tasmânia e era tão chato que logo ganhou o apelido de “Diabo da Tasmânia”. Era o tipo que usava uma trena para medir se a grade de proteção na frente do palco estava colocada na distância estipulada em contrato.

O tour manager do Sisters of Mercy era outro chato de galochas, com o agravante de receber ordens do mala dos malas, o cantor Andrew Eldritch. Num show no Circo Voador, no Rio, o sujeito exigiu que a produção retirasse do local uma pessoa que estava, segundo Eldritch, em “atitude suspeita”: a baiana que vendia acarajé. Explicamos que a coitada da tia estava ali desde a fundação do Circo e não poderia ser retirada.

Mas nenhum desses chatos chegou perto do nível de pentelhação do tour manager do Buzzcocks. Na turnê que o grupo fez no Brasil, em 2001, esse cara bateu todos os recordes. Enquanto Pete Shelley e Steve Diggle, os líderes da banda, tratavam todo mundo super bem e não davam nenhum sinal de estrelismo, o tour manager parecia que estava trabalhando com Elvis na fase Vegas.

No show do Olympia, em São Paulo, o sujeito queria que eu perguntasse às bandas de abertura que camisetas de bandas cada uma iria usar, para ele “aprovar”.

Cada refeição era um tormento. Ele queria saber, de antemão, os cardápios completos de todos os lugares onde a banda almoçaria e jantaria. Naquela época de Internet jurássica, quando nenhum restaurante tinha site, isso significava que tínhamos de ir aos lugares antes e anotar a lista de pratos.

Quando a turnê chegou ao Rio de Janeiro, o bicho despirocou. Não sei se ele achou que estava com o Guns N’Roses no Rock in Rio, mas o fato é que as exigências ficaram ainda mais absurdas.

Um dia, havíamos combinado uma visita ao Cristo Redentor, seguida de um jantar. O tour manager me chamou e pediu um catálogo telefônico: “Hoje EU vou escolher onde vamos jantar!”. O sujeito abriu o catálogo, procurou em “Restaurantes” e apontou um nome qualquer. Era uma churrascaria na Taquara, zona oeste do Rio, depois de Jacarepaguá. Longe pacas. “É aqui que nós vamos jantar hoje!”.

Naquela tarde, fomos ao Cristo. A banda tirou fotos, admirou a paisagem e deu autógrafos para alguns fãs que os reconheceram. Depois todo mundo foi para a lanchonete e começou a tomar caipirinhas. Menos o tour manager, que saiu para verificar alguma coisa completamente inútil e sumiu por um tempo.

Certa hora, eu disse a Steve Diggle que precisávamos ir embora, ou nos atrasaríamos para o jantar.

“Mas já? Está muito agradável aqui, com essa caipirinha e esse visual. Por que precisamos ir tão cedo?”, disse Diggle.

“Porque o restaurante fica a umas três horas daqui”, respondi.

“E por que não vamos num restaurante mais perto?”

Expliquei a Diggle que o tour manager tinha escolhido aquele lugar onde Judas perdera as botas. Diggle deu um suspiro longo, olhou pro horizonte e perguntou: “Ele é um ‘fucking pain in the ass’ (em bom português, “mala do c*ralho”), não?”

Até aquele momento, eu evitara criticar o tour manager na frente da banda, para não causar nenhum tipo de atrito, mas senti que podia ser sincero. Disse que o sujeito não era só chato, mas a figura mais detestável, arrogante e intratável que eu já tivera o desprazer de conhecer, e relatei alguns dos casos recentes envolvendo o pentelho.

Diggle disse: “Sabe de uma coisa? Chama a van. Vamos jantar. E deixa ele aí.”

Até hoje não sei como o mala voltou do topo do Cristo Redentor. A pé, provavelmente.

PARAGUAI TEM VITÓRIA TRANQUILA

Na Copa América, deu a lógica: o Paraguai impôs seu melhor futebol e venceu a selecinha da CBF, provando, mais uma vez, que Dunga não é treinador e que essa "Geração 7 x 1" é das piores que já vestiram o uniforme amarelo. A CBF diz que está tudo bem e que Dunga continuará. Então agora é estufar o peito, cantar o hino com lágrimas nos olhos, fazer o sinal de "Tóis", postar "selfie" com careta e não se classificar nas eliminatórias para a a Copa de 2018. Vamos torcer.

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