Roy Cicala morreu em São Paulo na noite de terça-feira, aos 73 anos. Se você não sabe quem foi, não tem problema: pegue qualquer disco de pop-rock gravado nos Estados Unidos entre 1968 e 1988 e leia o encarte. É bem capaz de você achar o nome do sujeito por ali.
Roy foi sócio do Record Plant, um dos estúdios mais famosos de Nova York. Também foi um dos engenheiros de som e produtores mais requisitados dos anos 70 e 80. Trabalhou com Frank Sinatra, Miles Davis, Jimi Hendrix, Bruce Springsteen, Blondie, Aerosmith, AC/DC, e centenas e centenas de outros. Era amigo íntimo de John Lennon, com quem gravou sete álbuns.
Roy era considerado um ás em gravações ao vivo. Foi o engenheiro de som no “Concerto para Bangladesh” e no álbum “Frampton Comes Alive”, de Peter Frampton. Só isso.
Em 2006, Roy veio ao Brasil visitar a filha. Nunca mais deixou o país. Juntou-se ao produtor Apollo Nove e levou seu velho equipamento do Record Plant para o estúdio de Apollo, na Vila Mariana, onde gravou discos de Forgotten Boys, Nasi e Ciro Pessoa.
Quando entrevistei Roy no estúdio da Vila Mariana, ele mostrou duas velhas caixas de som na parede: “Tá vendo essas caixas? Gravei Lennon, Hendrix e Miles Davis nelas.” Depois, apontou para um enorme aparelho de metal com botões grandes. Era o “reverb” (“eco”) que usava no Record Plant. “Quer ouvir uma coisa legal?” perguntou, antes de colocar uma fita antiga para rodar e ligar o aparelho. Poucos segundos depois, explodiu nos falantes a abertura de “# 9 Dream”, de Lennon, soando mais linda e cristalina do que eu jamais tinha ouvido.
Roy era uma fonte inesgotável de grandes histórias. Viu Lou Reed brigando com a então namorada, um traveco chamado Rachel; se espantou com Phil Spector dando tiros no teto do estúdio e ajudou a levantar Keith Moon do chão depois de o baterista desmaiar de tanto beber.
Em março de 1974, Roy trabalhava em um disco de Harry Nilsson produzido por Lennon, quando dois convidados inesperados apareceram: Paul e Linda McCartney. O encontro acabou numa grande “jam session”, da qual participaram também Stevie Wonder e o saxofonista dos Stones, Bobby Keys. Foi a única vez que John e Paul tocaram juntos depois do fim dos Beatles. O encontro rendeu um disco pirata histórico, “A Toot and a Snore in 74’”, célebre pela gravação de Lennon oferecendo cocaína a Stevie Wonder.
Roy falava desses momentos com uma simplicidade absurda. Claro que sabia da importância histórica das cenas que havia presenciado, mas nunca usou isso para se promover. Foi uma das últimas pessoas a ver Lennon vivo, mas não gostava de falar sobre 8 de dezembro de 1980. Lembro que, ao fim da entrevista, Roy disse que precisava terminar porque estava esperando uma ligação. A ligação era de Yoko Ono, convidando-o para ser entrevistado em um documentário sobre Lennon.
P.S.: RIP Hélcio Aguirra
Não foi só Roy Cicala que nos deixou na terça. O guitarrista do Golpe de Estado, Hélcio Aguirra, morreu de hipertensão, aos 56 anos.
O Golpe é uma dessas bandas mais importantes do que a vendagem de seus discos ou a exposição na mídia fazem supor. Nunca fizeram grande sucesso comercial, mas têm uma carreira longa, sempre fizeram ótimos shows e têm um público fiel. São pioneiros da cena hard rock brasileira.
Foi muito comovente ver a repercussão da morte de Aguirra nas mídias sociais. A exemplo de outros artistas que nos deixaram recentemente, como Redson (Cólera) e Celso Blues Boy, foi só quando partiram que percebemos como eram populares e queridos.
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