Há cerca de um mês, quando a HBO estreou a segunda temporada de “True Detective”, escrevi aqui no blog que o primeiro episódio não tinha sido lá grande coisa, mas que ainda era muito cedo para avaliar a série.
Hoje, depois de ter visto cinco dos oito episódios (escrevo na sexta-feira, antes da exibição do sexto episódio), dá para dizer sem medo de errar: “True Detective” é um abacaxi.
É inacreditável que o mesmo Nick Pizzolatto, criador e roteirista da série, seja responsável pela segunda temporada, que não tem uma fração da inventividade, tensão e mistério da trama que envolveu Matthew McConaughey e Woody Harrelson na temporada de estreia.
O que era um policial noir-gótico-sobrenatural à David Lynch virou uma trama policial comum, confusa e sem graça.
Tudo é ruim em “True Detective 2”: diálogos, personagens, atuações, situações, direção... um desastre completo.
O principal problema da série, a meu ver, é o excesso de personagens principais. São quatro: o policial Ray Velcoro (Colin Farrell), o mafioso Frank Semyon (Vince Vaughn), e outros dois policiais, Ani Bezzerides (Rachel McAdams) e Paul Woodrugh (Taylor Kitsch).
Cada um deles tem seus próprios demônios: Velcoro está em guerra contra a ex-mulher pela guarda do filho, que pode ter sido concebido depois de um estupro sofrido por ela.
Semyon tenta, há anos, ter um filho, mas perdeu uma fortuna num roubo e agora volta às atividades criminais para recuperar seu dinheiro.
Woodrugh é um ex-militar com uma história cabulosa – e secreta - de guerra, além de ter questões sexuais mal resolvidas - e não tão secretas assim.
Bezzerides é um poço de ressentimento contra os homens. A moça odeia o pai, um guru new age (David Morse) que ela culpa pelo suicídio da mãe, mas não hesita em usar a irmã, que trabalha num esquema de transmissão de filmes pornô pela Internet, para ajudá-la a solucionar um caso envolvendo prostituição.
O tema central da série é a investigação do assassinato de um político, metido num projeto bilionário de uma estrada que corta a Califórnia. Mas as tramas particulares de cada personagem, com seus problemas familiares e dramas pessoais, acabam por interferir demais na narrativa, e a história principal empaca.
Para piorar, algumas sequências são muito mal filmadas e outras, completamente inverossímeis.
No fim do quarto episódio, há um tiroteio sangrento entre policiais e uma gangue de traficantes mexicanos, no meio da rua, que deixa muitos civis mortos. Revi a sequência umas três vezes só para confirmar que foi, sem exagero, uma das piores cenas de tiroteio que já vi. Os policiais agem como patetas, os bandidos são umas bestas que preferem ficar parados no meio da rua trocando tiros a tentar fugir, e a pataquada termina com uma cena ridícula em que o chefão dos bandidos, que está com a arma apontada para a cabeça de um refém, dá uma de kamikaze e mata o refém em vez de atirar nos policiais.
Aqui está a cena inteira. Repare nos policiais andando em fila indiana pela rua como se estivessem indo a um piquenique; a péssima pontaria dos bandidos que não acertam um tirinho sequer de metralhadora em Rachel McAdams enquanto ela faz cooper desprotegida pelo meio da rua; a lentidão da van que foge a 10 km por hora; a passividade dos trabalhadores de um sweatshop, que nem se dão ao trabalho de sair à rua depois que o prédio vizinho EXPLODIU e, finalmente, o bandido careca kamikaze.
Mas nada se compara à cena do quinto episódio em que uma chefona da polícia faz uma reunião “secreta” com Velcoro, Bezzerides e Woodrugh – no meio da rua, à luz do dia.
Isso não aconteceria nem em filme brasileiro dos anos 80.
Minha única motivação para terminar de ver “True Detective” é conferir se ainda tem algo para piorar ali. Quem sabe uma aparição surpresa de Nicholas Cage?
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