Quantcast
Channel: Andre Barcinski
Viewing all articles
Browse latest Browse all 575

Bukowski ralou para ser Bukowski

$
0
0

O canal + Globosat exibe hoje, às 12h, "Bukowski - Born Into This", documentário de John Dullaghan sobre o escritor Charles Bukowski (1920-1994).

O filme tem entrevistas muito boas com Bukowski e com amigos e admiradores como o cantor Tom Waits e os atores Harry Dean Stanton e Sean Penn.

Mas o aspecto mais interessante do filme é a descrição dos anos em que Bukowski penou financeiramente antes de poder dedicar-se apenas à literatura.

O escritor morreu de leucemia, em 9 de março de 1994, aos 73 anos. Mas foi só aos 49 anos de idade que ele virou escritor em tempo integral.

Antes disso, Bukowski penou em vários empregos: dirigiu caminhões, carregou mudanças, trabalhou numa fábrica de picles e foi carteiro. Tudo para ganhar uma grana que o possibilitasse escrever à noite.

No fim dos anos 50, depois de quase morrer de uma úlcera perfurada, conseguiu emprego nos correios, separando correspondência. Ele trabalhava a noite toda e escrevia durante o dia. "Mas eu escrevia tanto que, à noite, meus braços doíam a ponto de eu não conseguir levantá-los quando ia separar as cartas", conta o escritor.

Bukowski trabalhou de separador de cartas por onze anos. Nesse período, escreveu centenas de poemas e contos, que enviava para revistas literárias. Um dia, um sujeito chamado John Martin leu um dos poemas e ficou impressionado com a força e beleza das palavras de Bukowski.

Martin escreveu para o autor elogiando o poema e perguntando se ele tinha mais material. Bukowski tinha pilhas de poemas inéditos. Martin resolveu fundar uma editora, a Black Sparrow Press, só para publicar o trabalho dele (depois publicaria obras importantes de autores como John Fante, Paul Bowles e D.H. Lawrence, entre muitos outros).

É aí que vem o momento mais bonito e emocionante do filme: John Martin conta que perguntou a Bukowski por que ele não largava o emprego nos correios para escrever. "Porque eu preciso sobreviver", disse o escritor.

Martin pediu a Bukowski que fizesse uma lista de todos os seus gastos mensais. O escritor começou a listar: "3,50 dólares por mês para cigarros, 20 por mês para comida, 40 para aluguel..." e chegou ao total de cem dólares. "Quer dizer que você viveria bem com cemdólares por mês?" perguntou Martin. "Sim, não preciso mais do que isso", respondeu Bukowski.

"Então está combinado: eu vou te pagar cem dólares por mês até o fim da sua vida, só para você largar os correios e poder escrever em tempo integral", disse Martin.

Os dois assinaram um contrato no dia 2 de janeiro de 1970. No dia 25 de janeiro,  Bukowski entregou os originais de seu primeiro romance, "Post Office", uma história autobiográfica sobre seus anos trabalhando nos correios.

O mais curioso dessa história é que ela aniquila a imagem que muitos têm de Bukowski como um niilista doido, um porra-louca irresponsável e arruaceiro que só queria saber de beber, trepar e escrever. Quer dizer, ele só queria fazer isso mesmo, mas sabia que não tinha condições financeiras para largar tudo e viver de literatura. Por mais de um quarto de século - do momento em que publicou o primeiro conto, aos 24 anos de idade, até receber a "mesada" de Martin - Bukowski se virou como pôde para não morrer de fome.

Até o fim da vida, o escritor foi grato a Martin e às editoras independentes que o publicaram quando ele era um joão-ninguém. Mesmo depois de ficar famoso, nunca deixou de enviar poemas e contos para as pequenas editoras. Bukowski nunca esqueceu de onde veio.

The post Bukowski ralou para ser Bukowski appeared first on Andre Barcinski.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 575