No fim de 1983 (ou teria sido início de 84?) vi "O Selvagem da Motocicleta" ("Rumble Fish"), de Francis Ford Coppola. Fiquei tão empolgado com o filme que liguei imediatamente para meu pai e recomendei que ele não deixasse de ver.
Alguns dias depois, perguntei o que ele tinha achado. A resposta me surpreendeu: "Achei péssimo! Que coisa piegas e cafona! E que atores horríveis, não é possível que o Coppola tenha dirigido aquilo!"
Por um bom tempo, tive a convicção de que eu estava certo e ele, errado: o filme era mesmo uma maravilha, uma obra-prima noir e existencialista. Aos 15 anos, a gente sempre tem razão, certo?
Mas nada como um dia depois do outro.
Uns 15 anos depois, revi "O Selvagem da Motocicleta", e tive de dar razão ao coroa: que abacaxi insuportável! Que coisa pretensiosa e vazia!
O que aos 15 anos me pareceu genial - o preto e branco Nouvelle Vague da fotografia, o niilismo do personagem de Mickey Rourke (ridiculamente batizado Motorcycle Boy), as homenagens aos astros "selvagens" do cinema, como Brando e Dean, a trilha sonora percussiva de Stewart Copeland - aos trinta e poucos tinha se tornado um pastiche extravagante e brega dos filmes de delinquentes teens dos anos 50.
E o que era aquele peixe vermelho em meio à fotografia preto e branca, simbolizando a "ânsia pela liberdade" de Motorcycle Boy? E as cenas de lutas que pareciam coreografia de musical da Broadway? Que coisa cafona.
Fora que o elenco todo estava muito mal. Até mesmo bons atores, como Mickey Rourke e Dennis Hopper, que fazia o pai alcoólatra, atuavam em modo Cigano Igor. E Matt Dillon e Nicolas Cage não tinham salvação.
Hoje, às 23h50, o Telecine Cult exibe "O Selvagem da Motocicleta". Vou tentar revê-lo para confirmar sua ruindade. É uma pena que o canal não exibirá o filme dublado. Imagine uma hora e meia de Matt Dillon com a voz de Alexandre Frota:
Nelson Rodrigues é que estava certo em sua recomendação à juventude: "Jovens, envelheçam!"
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