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Um mar de esgoto

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Semana passada, a agência de notícias Associated Press (AP) anunciou os resultados de testes, feitos a pedido da agência pelo laboratório do programa de qualidade ambiental da Universidade Feevale, de Novo Hamburgo, sobre a qualidade da água da Lagoa Rodrigo de Freitas, da Praia de Copacabana e da Baía de Guanabara, onde serão realizadas diversas provas dos Jogos Olímpicos do Rio (veja aqui uma matéria do R7 sobre o tema). Os testes confirmaram o que qualquer morador da Cidade Maravilhosa já sabe há décadas: nossa água é podre.

Um técnico do laboratório disse: “Os testes até agora mostram que as águas do Rio estão cronicamente contaminadas. A quantidade de matéria fecal que entra nos corpos de água no Brasil é extremamente alta. Infelizmente, temos níveis comparáveis a algumas nações africanas e à Índia”.

A AP submeteu os resultados dos testes ao instituto independente Southern California Coastal Water Research Project, da Califórnia. Um dos biólogos do instituto afirmou: “O que se tem ali é basicamente esgoto puro. É água dos banheiros, dos chuveiros e do que as pessoas jogam na pia, tudo misturado, que vai para a água das praias. Isso seria interditado imediatamente se fosse encontrado aqui”, disse ele, referindo-se aos Estados Unidos.

A reação do governo do Rio foi a de sempre: em vez de pedir desculpas à população por ter mentido ao prometer que limparia 80% da Baía até as Olimpíadas, pôs em dúvida a qualidade dos testes e ainda culpou “interesses” que estariam por trás dos estudos. Em entrevista à Rádio Estadão, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, disse: “Temos que tomar muito cuidado com isso, com esses relatórios, ver o que tem de real nisso. A gente sabe que tem muitas obras para serem feitas para a despoluição da Baía de Guanabara, trabalhos a serem feitos na Lagoa Rodrigo de Freitas. Mas temos que ver quais são os interesses que estão por trás desses relatórios. A gente sabe que tem uma disputa séria por trás das pessoas que não querem a disputa dentro da Baía de Guanabara”.

Vale relembrar essa lindíssima peça publicitária, em que o então governador do Rio, Sergio Cabral, em tom triunfante e sob os acordes ribombantes do “Bolero de Ravel”, comanda a despoluição da Baía (Pezão era vice de Cabral):

 

 

Mais realista é esse vídeo:

 

 

Quatro dias depois da divulgação dos testes da AP, que repercutiram no mundo todo, Pezão anunciou mais um plano para despoluir a Baía. O prazo, dessa vez, é 2030.

Alguém ainda acredita nas promessas do governo?

O mais revoltante nessa história é que todo mundo está preocupado com a saúde dos atletas que disputarão as Olimpíadas, mas parece esquecer que, depois dos Jogos, é a população do Rio que continuará vivendo nesse mar de esgoto.

Os cariocas também têm culpa. Parecem mais preocupados em evitar um fiasco internacional e ver a imagem da Cidade Maravilhosa manchada na imprensa mundial do que em resolver a situação. Cadê os protestos pela despoluição de praias? Quantos cariocas, em comunidades carentes ou condomínios de luxo, jogam seu esgoto em córregos, mar e rios?

A gente sabe o que vai acontecer nas Olimpíadas: Pezão, Nuzman e Eduardo Paes vão contratar todos os ecobarcos disponíveis, cercarão as raias olímpicas e farão uma limpeza superficial na água, evitando que sofás, latas de lixo, pneus e cadáveres de bichos invadam o local de competição. Assim que terminarem os Jogos, volta tudo ao normal.

Cada cidade tem a praia que merece.

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