Image may be NSFW.
Clik here to view.
O técnico do Flamengo, Cristóvão Borges, acha que está sendo vítima de racismo.
Em entrevista à ESPN, o treinador disse:
Existem críticas exacerbadas que, por serem sistemáticas, viraram perseguição. E algumas com conotação racista sim (...) Começam com as críticas, as críticas insistentes, contínuas e diárias. Então ela vira perseguição e, no conteúdo de algumas dessas críticas, existem componentes racistas sim. Por exemplo, foi citado que o Flamengo, na hora de escolher o treinador, deixou de escolher o Osvaldo de Oliveira para escolher um do Pelourinho.
Li a “crítica” a que Cristóvão se refere. Ela está em textos do colunista do jornal “O Globo”, Renato Mauricio Prado. Em suas colunas, Prado, torcedor do Flamengo, cita um personagem fictício, “Bagá”, também torcedor fervoroso do time. Bagá chama Cristóvão de “Mourinho do Pelourinho” em referência ao treinador português José Mourinho, atualmente no Chelsea (Inglaterra) e considerado um dos maiores treinadores de futebol do mundo.
Sinceramente, não vejo racismo na coluna. Cristóvão é baiano de Salvador, por isso o “do Pelourinho”. A palavra começa por maiúscula, o que denota tratar-se do Pelourinho, bairro histórico de Salvador, não um "pelourinho" qualquer ("pelourinho" é uma coluna de pedra, geralmente colocada em local público, onde, no Brasil colonial, eram punidos criminosos e escravos rebeldes).
A escolha de palavras de Prado pode ter sido infeliz (talvez "Mourinho do Elevador Lacerda" não causasse tanta celeuma), mas é claramente uma brincadeira com a origem de Cristóvão, não com a cor de sua pele.
Respeito os sentimentos de Cristóvão e acredito que ele está sendo sincero ao reclamar do que considera racismo. Mas a verdade é que poucos treinadores do país têm sido tão elogiados pela imprensa e torcedores quanto ele, a despeito de seus resultados apenas medianos em campo.
Desde 2011, quando deixou de ser auxiliar e virou treinador, Cristóvão já trabalhou no Vasco, Bahia, Fluminense e Flamengo. Não ganhou nenhum título como treinador, mas sempre foi tratado com deferência. Se saísse hoje do Flamengo, conseguiria outro bom emprego em cinco minutos.
Como torcedor de um time – o Fluminense – treinado por Cristóvão, posso atestar que todas as críticas que ele recebia da torcida, que não foram poucas, resultavam de sua impressionante incapacidade de mexer no time durante os jogos e de montar uma defesa sólida. E outros treinadores – Abel, Renato Gaúcho, Luxemburgo, Ricardo Drubscky – foram tão ou mais criticados do que ele.
Em outro trecho da entrevista à ESPN, Cristóvão diz: "A tolerância comigo é diferente, sempre foi”.
Discordo novamente. A tolerância de times brasileiros com treinadores sempre foi e sempre será ridiculamente pequena. O Cruzeiro desmontou um time bicampeão brasileiro e depois despediu o técnico Marcelo Oliveira porque ele perdeu a Libertadores. O Botafogo demitiu Renê Simões com o time em primeiro lugar na Série B. Nosso futebol está cheio de exemplos de profissionais que foram mandados embora sem tempo de trabalhar adequadamente suas equipes.
No atual Campeonato Brasileiro, o Flamengo está em 13º lugar entre 20 times. É claro que a reação de torcedores e imprensa ao trabalho de Cristóvão não poderia ser das melhores.
Que existe racismo no futebol brasileiro, não há dúvida. É só ver o número desproporcional de treinadores brancos e negros. Isso precisa ser discutido. Mas ver Cristóvão usando o racismo para justificar as críticas que vem recebendo me parece errado.
O Flamengo foi campeão brasileiro em 2009 comandado por Andrade, um treinador negro que substituiu a Cuca, um treinador branco . Um dos técnicos mais queridos pela torcida do Flamengo é Jayme de Almeida, campeão da Copa do Brasil de 2013, que é negro.
Ao usar o racismo para se defender de críticas, Cristóvão abre um precedente perigoso: de agora em diante, todo comentarista, dirigente ou torcedor vai ter de pensar duas vezes antes de criticar um treinador negro. E isso é péssimo, porque cria dois pesos e duas medidas na avaliação do trabalho de um profissional. Treinadores devem ser avaliados exclusivamente por seus resultados e pela qualidade dos times que montam.
The post Técnico do Flamengo diz ser vítima de racismo… Será? appeared first on Andre Barcinski.