Nunca vi tanta gente querendo ir embora do Brasil.
E não falo de “coxinhas” que sonham em se dourar no sol de Miami ou “petralhas” que querem conhecer as maravilhas de Cuba antes da invasão ianque, mas em pessoas comuns que não aguentam mais a direção que o país tomou.
O irmão de um amigo largou um bom emprego de editor de filmes em São Paulo para ser guia turístico na Itália. Outro diz que vai vender sua pequena empresa de alarmes e porteiros eletrônicos para morar no Uruguai. Uma amiga voltou à Inglaterra depois de passar seis meses estudando numa universidade pública do Rio - ou melhor, dois meses, já que as aulas ficaram paradas um tempão porque os faxineiros estavam sem receber e os corredores pareciam depósitos de lixo.
Estão certíssimos.
Morei um bom tempo fora do país. E a todos que perguntam sobre a experiência, recomendo que tentem. No mínimo, a experiência vai mudar sua noção de cidadania.
Sou mais otimista. Acho que a Lava-Jato e as investigações que ainda vêm por aí podem servir para mudar alguma coisa. Pela primeira vez estamos vendo políticos e caciques de partidos presos e donos de empreiteiras atrás das grades. É um bom começo.
Mas entendo perfeitamente quando pessoas dizem que não aguentam mais.
É duro ver tanta gente desempregada – e de todas as classes sociais – tanta gente sem dinheiro e tantos negócios falindo, ligar a TV para ver a chefe da nação se pronunciar, esperando discursos de lucidez e austeridade em tempos de crise, e vê-la, de olhos esbugalhados e pinta de está prestes a sofrer um surto psicótico, falando de conquistas de mandiocas, mulheres sapiens e metas que não existem, mas que serão duplicadas assim que forem atingidas.
Os loucos tomaram conta do hospício.
No meio de tantas denúncias de corrupção e fisiologismo, é uma porrada na cara ler que o Senado aprovou a indicação, feita há um mês por Dilma, do advogado Ricardo Fenelon Júnior para a diretoria da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
Fenelon tem 28 anos e virou um dos chefões da aviação no país. Agora faz parte de um grupo de cinco “especialistas” responsáveis pela regulação da aviação brasileira, incluindo normas de segurança dos passageiros.
O artigo 12 da Lei nº 11.182 de 2005 estabelece que os Diretores da ANAC devem comprovar “elevado conceito no campo de especialidade dos cargos para os quais serão nomeados”.
Mas as credenciais de Fenelon Júnior não parecem lá muito "elevadas": durante 18 meses – meses, não anos - ele fez dois estágios – sim, estágios – na procuradoria da ANAC e no juizado que auxilia passageiros com problemas no aeroporto de Brasília.
O grande trunfo do rapaz é ser genro do senador Eunício Oliveira (CE), líder do PMDB no Senado. Dilma foi convidada de honra do casório, que ocorreu há dois meses e reuniu 1200 pessoas num rega-bofe histórico em Brasília. E o presente de casamento da presidenta foi um dos cargos máximos da aviação brasileira.
Uma nota, publicada no site da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (APPA) mostra a revolta dos profissionais do setor de aviação com a nomeação: "A possibilidade de nomeação política, baseada na mais asquerosa troca de favores partidários, é por nós, especialistas, veementemente repudiada".
Não adiantou. O genro do senador foi mesmo nomeado.
A partir de agora, toda vez que você pegar um avião, estará sob a responsabilidade de Ricardo Fenelon Júnior. Não dá uma reconfortante sensação de segurança?
Bom voo pra você.
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