A editora Zahar lança este mês o livro “Le Freak – Autobiografia do Maior Hitmaker da Música Pop”, de Nile Rodgers. O livro está em pré-venda em algumas livrarias virtuais e é imperdível.
Há dois anos, quando o livro saiu no exterior, escrevi no blog sobre ele. Aqui vai o texto...
“Le Freak” já entrou para minha lista pessoal dos livros mais incríveis sobre música.
Nile Rodgers foi o criador do grupo de discoteca Chic, famoso por sucessos como “Le Freak”, “Good Times” e “Dance, Dance, Dance”. Foi também produtor de alguns dos álbuns mais marcantes dos anos 80, como “Let’s Dance” (1983), de David Bowie, “Like a Virgin” (1984) de Madonna e “Notorious” (1986), do Duran Duran. Trabalhou com Diana Ross, Michael Jackson, Mick Jagger e centenas – centenas mesmo – de outros artistas.
Mas vamos deixar de lado por um momento a carreira musical de Nile Rodgers. Só a vida dele daria um livro espetacular. Não é à toa que um terço de “Le Freak” conta a infância e adolescência do sujeito.
A mãe de Nile, Beverly, tinha 13 anos quando ele nasceu. Beverly era negra, mas tinha raízes européias e indígenas. O pai de Nile era um percussionista de jazz de família africana. O casal logo se separou. Beverly teve filhos com vários outros homens – Nile é o único filho negro – enquanto o pai de Nile, que sofria de alcoolismo, acabou morando na rua, mendigando. E isso é só a primeira página.
Beverly se casa com um beatnik judeu, Bobby Glanzrock, vira junkie em tempo integral e manda o pequeno Nile morar com vários parentes, incluindo uma avó durona e uma tia com problemas mentais por ter sido violentada na infância.
São tantas as histórias incríveis sobre a infância de Nile Rodgers que é difícil destacar alguma. A que mais me deixou pasmo foi a de um criminoso chamado “Bang Bang” que se apaixona por Beverly, leva um fora dela e ameaça matar os filhos – incluindo Nile – se ela não voltar para ele. Beverly se esconde com as crianças e chama a polícia, que inicia uma caçada em todo o país por Bang Bang, então procurado por vários crimes. Esse era um dia normal na vida da família Rodgers.
Adolescente, Nile começa a se interessar por jazz, vira hippie depois de tomar LSD com uma comuna de freaks chefiada por Timothy Leary – 20 anos depois, numa festa, Nile ouve Leary contar a história do dia em que converteu dois jovens negros ao LSD e percebe que o personagem da história era ele próprio – trabalha limpando aviões num aeroporto de Los Angeles, onde acaba fazendo faxina no avião de Frank Sinatra, estuda música clássica, começa a tocar guitarra e consegue uma vaga na banda do lendário teatro Apollo, no Harlem.
No meio dos anos 70, Nile e seu parceiro musical, Bernard Edwards, montam o Chic. A inspiração veio do Roxy Music e – pasmem – do Kiss.
O Roxy Music é compreensível: com sua sofisticação sonora e aquelas capas chiques com supermodelos em poses de revista, o Roxy Music inspirou toda a discoteca. Já o Kiss interessou a Nile pelo anonimato da banda. Nile achou interessante o fato de os integrantes não se mostrarem e decidiu que o Chic também seria assim, mais um projeto que uma banda.
Entre 1975 e 1986, Nile Rodgers foi um dos grandes nomes do pop. Explodiu com o Chic e os discos que produziu – Sister Sledge, Bowie, Madonna, Dura Duran – lideraram as paradas. Com o sucesso e a fortuna, vieram imensos problemas com drogas, especialmente cocaína.
Nile cheirava tanto que seu contador um dia o aconselhou a presentear os amigos com pingentes de ouro: “Nile, ouro é mais barato que cocaína; em vez de comprar pó pra eles, dê ouro. Eles vão gostar e você vai poupar uma fortuna.” Uma vez, em plena paranóia cocainômana, Nile, que havia transado com a namorada de um traficante e achava que o marginal iria matá-lo, passou dias trancado no armário de um hotel de luxo, empunhando uma pistola 45 e uma espada de ninja.
Quem gosta de ler sobre os bastidores da música vai se fartar. Nile conta encontros com Michael Jackson, Diana Ross, Eddie Murphy (Nile fez a trilha de “Um Príncipe em Nova York”), Blondie e Bowie, entre outros. Numa festa na mansão de Madonna, na Flórida, Niles termina a noite no banheiro, cheirando e chorando – “Cara, você é demais! Eu tem amo, cara!” – com Mickey Rourke.
Os casos com Madonna são hilários. Certa vez, a “Material Girl”, triste porque Nile não havia dado em cima dela, pergunta se ele não a achava sexy. “Madonna, você é a coisa mais sexy que já vi na vida”, responde Nile. “Então por que você nunca quis me comer?” Nile, atordoado pela pergunta, explica que é o produtor do disco e não achava isso seja legal. “Isso não impediu nenhum dos meus produtores de tentarem me comer”, diz Madonna.
Depois de lançar “Le Freak”, Nile Rodgers voltou a reinar no pop com sua participação no álbum “Random Access Memories”, do Daft Punk. Ele foi co-autor de três faixas do disco, incluindo o hit “Get Lucky”. E Rodgers deve lançar, nos próximos meses, um novo disco do Chic, “It’s About Time”. O disco tinha lançamento marcado para junho, depois foi adiado para julho, mas ainda não está disponível. Estou muito curioso para ver que Nile Rodgers aprontou com a nova encarnação do Chic.
The post Sexo, drogas e pop: a vida de Nile Rodgers, gênios das pistas de dança appeared first on Andre Barcinski.